Sustentabilidade e Proximidade estão na base da aposta nos têxteis lusos
Decorreu no passado dia 23 de fevereiro, na Associação Empresarial de Portugal (AEP), um Workshop sobre Sustentabilidade.
Esta ação resultou de uma iniciativa conjunta com a Enterprises Europe Network, que agrega organizações de 65 países, AEP incluída, e tem por missão agilizar uma rede de troca de conhecimentos nas áreas do design, engenharia, economia e gestão, a par da promoção de parcerias entre os seus associados.
Com foco no setor têxtil, o evento contou com a presença de Adriana Dominguez, presidente executiva do grupo de moda, de origem galega, Adolfo Dominguez.
Adriana Dominguez diz crer que «tem sido feito um trabalho incrível em termos de fábricas e inovação dentro do setor têxtil e isso faz com que nós, na Adolfo Dominguez, no último ano, tenhamos trazido 30% da produção para as proximidades, e para trabalhar em Portugal. É a primeira vez em 20 anos que fazemos isto, e acho que é uma oportunidade única», referindo ainda que «esta pandemia colocou muita tensão nas cadeias de fornecimento e logística, e isso fez com que voltássemos a produzir aqui perto e descobríssemos todos os avanços que têm sido feitos na sustentabilidade, aqui em Portugal», referindo que entre 2021 e 2022 a marca multiplicou por quatro a produção no nosso país.
Nesta intervenção focada no sistema de sustentabilidade do grupo, que teve inicio em 2010 com a opção de acabar com o uso de matéria-prima de origem animal, a empresária aponta que «esta aposta tem de ser de uma atitude clara, focada, mas suportada por uma racionalidade de negócio, de modo a não colocar em causa a sua sobrevivência. A sustentabilidade tem de ser suportada pelos clientes, mas a empresa tem obrigação de mostrar que essa é a opção mais certa em termos do planeta e do uso dos seus recursos e que é essa a escolha que faz sentido para o consumidor».
Prova deste caminho sustentável são as campanhas “Repete mais, necessita menos” e a coleção “Zero Desperdício”. A gestora aponta que «Podemos gastar mais dinheiro numa peça de roupa, mas, em contrapartida, podemos usá-la muitas mais vezes. Na Adolfo Dominguez queremos, desta forma, combater a “fast fashion”. Esta é uma forma de combate ao “usar e tirar”, apostando na intemporalidade.
Por sua vez, Céu Filipe, diretora de inovação da AEP, questionada sobre a importância deste evento, referiu ao Maia Hoje que «este evento marca um novo programa de trabalho. Numa iniciativa em que a Comissão Europeia quer apoiar as empresas, sobretudo as PME e as start-up, a escalar rapidamente a Europa, quisemos fazer isto com a fileira têxtil, por ser um setor muito forte em Portugal». No que se refere à presença da presidente executiva da Adolfo Dominguez, Céu Filipe referiu que «este grupo tem feito a sua história ao nível da sustentabilidade, da economia circular e da pegada carbónica» e explicou que «este evento conta com investigadores e designers , com as empresas que estão presentes, mas também com as empresas que estão via online. Uma rede com mais de 40 parceiros internacionais, desde a Galiza até à Polónia, passando por países como Itália e França, Dinamarca e outros países do norte da Europa, que veem na Península Ibérica e nas empresas, quer de Portugal quer de Espanha, um bom exemplo a seguir».
Por sua vez, Paulo Vaz, administrador da AEP, referiu ao nosso jornal que «do ponto de vista da legislação (no que à sustentabilidade no setor têxtil diz respeito) o essencial está já realizado. O que faz falta é naturalmente uma questão de educação, de mudança de mentalidades, uma questão cultural. Isto é um caminho que se faz caminhando, é um caminho difícil, que começou por aquilo que se pensava ser mais um ativismo político, algo que era de nicho e até marginal e que, de repente, se torna numa corrente base do pensamento social dos nossos dias. E isto aconteceu por uma razão muito simples, quando houve essa mudança de mentalidade, quando os consumidores, nomeadamente as novas gerações, exigiram dos produtores, das marcas, que lhes oferecessem essa autenticidade sob o ponto de vista da sustentabilidade, colocou a sustentabilidade, as preocupações sociais e ambientais, a entrarem pela porta do departamento comercial das empresas, e isso fez toda a diferença».