O Mercado do Câstelo
Localizado na zona central da maior freguesia em área do concelho – Câstelo da Maia, o Mercado é hoje um ponto de referência para todos os que aí passam mas, infelizmente, são cada vez menos os que o visitam.
Socorrendo-nos da descrição do Padre Joaquim Antunes de Azevedo nas “Memórias de Tempos Idos”, podem-se retirar algumas informações preciosas sobre o Câstelo. Ele refere que «Noutro tempo havia ali só a cadeia e a casa das sessões da Câmara, por cima da mesma, em 1873. Sendo Presidente da Câmara José Vitorino da Fonseca, fez-se um acrescento àquela casa, ficando com capacidade para todas as repartições do concelho. A estrada que de Leça de Matosinhos vem passar àquele lugar embelezou muito a povoação do Castêlo; e tem dado lugar a fazer-se ali edificações… Criou-se ali um mercado, em todas as segundas feiras, o qual está sendo muito concorrido. Os géneros que se vendem são comestíveis. Este mercado, ou feira, foi criado pelos anos de 1866…»
Assim, junto ao Monte de Santo Ovídio, uma elevação com 108 m encimada pela Capela de Santo Ovídio erigida no séc. XVIII, ocorria a feira do Câstelo, importante ponto comercial para as populações que aqui confluíam, até mesmo de outros concelhos como Matosinhos e Santo Tirso. Neste período, seria mesmo o espaço central do concelho da Maia, pois mesmo ao lado estavam os antigos Paços do Concelho, no edifício onde hoje se encontra o Museu Municipal. A 31 de dezembro de 1906, ficou este local designado como Mercado Municipal Castello da Maia, como indica o escondido marco à face da movimentada EN 14.
Durante a Primeira Guerra Mundial ocorreram quebras no abastecimento de géneros e a falta de cereais foi alvo de graves protestos. Esta realidade é facilmente comprovada pelos contantes apelos dos regedores das freguesias para a reposição dos stocks de milho, o açambarcamento por parte de alguns era uma prática usual, originando revoltas contra os preços praticados. Estes incidentes ocorriam mais nos dias de feira, como no Mercado, agora designado de 5 de Outubro no Castêlo, chegando ao ponto de se consumarem assaltos “mais ou menos” organizados pela população a algumas Quintas e mercearias. Em janeiro de 1916, a Federação Socialista da Maia manifestou-se contra os açambarcadores de géneros, que se podiam encontrar com facilidade no Mercado do Castêlo. Já o regedor de Santa Maria de Avioso, José Alves da Silva, referia a existência problemas no Mercado, em virtude das regateiras quererem açambarcar o milho e mais géneros, faltando produtos para os particulares, o que originou «alteração da ordem pública, dissabores e graves conflitos».
Passados esses tempos atribulados, todas as segundas feiras logo de manhã cedo, aqui se realizava a maior feira do Concelho da Maia, até que em 1963 foi inaugurado uns metros mais abaixo, o actual Mercado a 12 de julho na presença do Ministro das Obras Públicas, Dr. Eduardo Arantes de Oliveira, sendo Presidente da Câmara Municipal o Coronel Carlos Moreira e que viu o seu nome atribuído a este espaço. Implantado numa área ainda “virgem” rodeado de árvores e campos, só o cemitério de Santa Maria lhe fazia companhia. Nada à sua volta de encontrava urbanizado, só mais tarde vieram os prédios, a Zona Industrial, as lojas comerciais, os Correios, o Metro, ou o ISMAI.
Como memória desse dia ficou um «obelisco» que identifica a inauguração do ainda jovem e bonito Mercado do Castêlo. Deixo só aqui uma pequena observação sobre o gosto duvidoso da recente decoração do monumento. Reabilitar, sim. Mas adulterar uma memória maiata com aquela abordagem não lembra a ninguém…