Importância do controle dos valores de colesterol nos jovens e nas crianças
O conceito de exposição cumulativa ao colesterol não é novo. Este fator há muito que foi usado no contexto da exposição tabágica e na hipercolesterolémia familiar (HF).
A evolução e as consequências a médio prazo da HF estão diretamente relacionadas com os anos de exposição ao colesterol LDL elevado, uma vez que estas crianças já nascem com valores de colesterol muito elevados (zona vermelha da figura).
Nestes casos, o limiar para o aparecimento de manifestações clínicas da aterosclerose arterial (enfarte do miocárdio, AVC …) atingir-se-ia pelos 20 a 40 anos de idade. Nos outros casos em que os valores de colesterol não são tão elevados (zonas laranja e amarela), este valor crítico ocorreria significativamente mais tarde (50 a 70 anos).
Alguns investigadores examinaram o efeito da idade em que este processo decorreu, isto é, se o risco cardiovascular aumenta da mesma forma para o mesmo incremento da carga colesterolémica quando esta surge numa idade jovem ou em idade mais avançada.
Constatou-se que a exposição mais precoce a um nível semelhante de valores de C-LDL (mau colesterol) se associa a maior risco de acidentes futuros do que a exposição tardia, enfatizando assim a importância do controle dos valores de C-LDL mais cedo na vida.
Uma das principais perceções clínicas derivada desta análise foi também que o risco a longo prazo de um evento cardiovascular é significativamente influenciado pelo valor de C- LDL na infância e adolescência, mesmo que venha a diminuir posteriormente.
Mais pragmaticamente, as intervenções tardias para reduzir o C-LDL podem já não ser suficientes para eliminar totalmente o risco acumulado pelo jovem adulto. Será preferível uma abordagem dos fatores de risco mais precoce, designadamente no que se refere aos valores de C-LDL, em vez de esperar até a meia-idade para iniciar as mudanças de estilo de vida (alimentação saudável, não fumar, fazer exercício físico) e se necessário iniciar tratamento com doses baixas ou moderadas de medicamentos, de forma a manter valores de C-LDL muito baixos desde a infância e a adolescência.
É preferível uma abordagem dos fatores de risco muito precoce, isto é na infância, em vez de esperar até a idade adulta para iniciar as mudanças de estilo de vida, nomeadamente, alimentação saudável, não fumar, fazer exercício físico…
Opinião de Ovídio Costa
Cardiologista
Professor da Faculdade de Medicina da U.P.