“Bordalo II” com obra polémica na Lipor
A dias da visita do Papa Francisco a Portugal, a semana passada ficou marcada pelo polémico “ataque” do artista Lisboeta “Bordalo II” que, no palco principal onde se irão realizar atividades da Jornada Mundial da Juventude, estendeu um tapete de cerca de 20 metros composto pelo desenho de notas de 500 euros que intitulou “Walk of Shame” (Passeio da Vergonha). O artista justifica nas redes sociais o “protesto” «num momento em que muitas pessoas lutam para manter as suas casas, o seu trabalho e a sua dignidade, decide investir-se milhões do dinheiro público para patrocinar a tour da multinacional italiana», escreveu o artista que terminou com a palavra, alegadamente provocatória para os católicos «Habemus Pasta».
Um leitor indignado com a “obra”, que se confessa católico, apostólico, romano e maiato, contactou o MaiaHoje porque na sua opinião «este “artista” não tem moral para este tipo de manifestações porque, do Estado, já auferiu mais de 700.000 euros em ajustes diretos, dois dos quais, o maior e o último, adjudicados pela Lipor que é empresa participada pela Câmara Municipal da Maia, o que envergonha o município e os milhares de católicos que aqui vivem que, por via dos seus impostos, sustentam este senhor. Porque é que este artista não criticou os quase três milhões de euros que a sua autarquia pagou à Mesquita de Lisboa? Dualidade de critérios é para enxovalhar os católicos», disse e questionou.
O MaiaHoje conferiu as alegações do leitor e verificou que desde 2018 o artista fez 27 contratos com empresas públicas ou de participação pública, no valor de 708.828,67 euros. Também conferimos que o maior valor recebido aconteceu em 2019, num «Ajuste Direto para a Conceção Criativa De Obra De Arte da LIPOR», no valor de 72.000 euros. É também factual que o último ajuste direto ao artista, aconteceu apenas há cerca de uma semana no passado dia 25 de julho de 2023 «Ajuste Direto para Aquisição de uma Escultura da Autoria do Artista Bordalo II», no valor de 18.000 euros à mesma empresa, lê-se. Acrescente-se que, ainda este ano, em Março, a Lipor já tinha efetuado um ajuste direto no valor de 18.860 euros ao artista.
Perante tais factos os jornalistas do MaiaHoje sobre o ajuste direto efetuado no passado dia 25 de julho de 2023 à empresa Mundofrenético Lda, no valor de 18.000 euros, quiseram saber que Obra foi efetuada pelo artista, o local onde esta está a ser exposta, como foi feita a avaliação financeira da Obra e o porquê de não ter existido concurso público e ser efetuado ajuste direto à empresa Mundo frenético Lda. e ao artista Bordalo II.
A Lipor começou por explicar ao MaiaHoje que semanalmente as suas instalações são visitadas por «milhares de pessoas». A encomenda que efetuaram ao artista Bordalo II e à sua empresa MundoFrenético visou «criar mais um foco cultural de atração de visitantes às instalações da LIPOR». A escolha ter-se-á efetuado porque «o trabalho de Bordalo II centra-se na criação de obras de arte feitas a partir dos resíduos urbanos, no sentido de alertar para a reciclagem do lixo e o combate ao desperdício, que são temas centrais da atividade da LIPOR», defendem, reforçando que «esta criação artística faz uso de resíduos sólidos urbanos (lixo), cuja reciclagem é o cerne da atividade dos oito municípios associados da LIPOR», disseram ao MaiaHoje.
Quanto ao custo da mesma «teve como referência os valores praticados no mercado de Arte para peças com características idênticas», diz a Lipor que acrescenta «o procedimento por ajuste direto, foi o necessário e suficiente face à despesa, está previsto na lei, pelo que o processo de aquisição desta peça de arte cumpriu todas as regras legais estabelecidas no Código da Contratação Pública», disseram a terminar.
Apesar da legalidade do processo, alegadamente terá havido uma consulta para “referência aos valores praticados” no mercado para peças idênticas. Assim, ficam por esclarecer, ou não, duas questões: porque é que não houve concurso público e se a obra tem «características idênticas», porquê adjudicar a este artista e não a outro?
O próprio artista critica e interroga-se porque é que não foram feitos concursos públicos para ajustes diretos, mas obviamente que não se referia aos “seus” ajustes diretos. Veja a opinião do artista em entrevista à TVI aqui: