O Dia de Reflexão é agora
Na madrugada do dia 11 de março, Luís Montenegro era um vencedor derrotado, sendo que Pedro Nuno Santos falou como um derrotado vencedor. Esta dicotomia torna-se clara, pela ascensão do partido de direita radical que ultrapassou 1 milhão de votos e deixa um país numa aritmética parlamentar que dificilmente se deixará governar.
Se por um lado Pedro Nuno Santos referiu que o PS seria oposição e não obstaria a um governo da AD – até para se firmar como o principal partido da oposição – o mesmo não se estendeu a uma possível viabilização de um orçamento.
Dito isto, Marcelo Rebelo de Sousa tem agora uma realidade extraordinariamente mais complicada do que tinha no seu primeiro mandato em 2016. Mas não é tudo. No ano que a Democracia faz 50 anos, Marcelo Rebelo de Sousa tem ainda o peso político de ter sido o Presidente que decidiu convocar eleições após demissão de António Costa, o que resultou na transformação do CHEGA num partido de grande peso na Assembleia da República.
Mas não lavemos as nossas mãos. Pedro Nuno Santos tem razão quando diz que aqueles 1.108.764 de portugueses que votaram no CHEGA não são todos fascistas, xenófobos ou antidemocráticos. Não são. Aliás, maioritariamente, são portugueses desacreditados, invisíveis, e acima de tudo, cansados de não verem os seus problemas resolvidos. Esta assunção aponta acusatoriamente para os partidos democráticos tradicionais que ao longo de anos não têm sabido responder aos reais problemas destas pessoas. É necessário empenho e uma maior e melhor leitura.
Por exemplo, estes resultados evidenciaram uma comunicação distinta. Muito mais digital que pelos meios tradicionais. Muito mais TikTok do que televisão. Muito mais X do que jornais. O CHEGA não tem comentadores televisivos, nem me recordo de grandes cronistas em jornais. Mas tem abordagens para públicos específicos (jovens) em plataformas de difusão imediata – onde o contraditório é questionável ou inexistente.
Sem contraditório, permite-se a falácia, o engodo, todos têm razão e o derrotado é sempre o mesmo – a Democracia.
Torna-se urgente regular o espaço digital, bem como fiscalizar o já regulado pela UE. Observando o Brexit, eleição de Trump, a força das fake news, não podemos deixar de refletir sobre novas formas de atuação que as entidades reguladoras da comunicação podem e devem passar a ter.
A democracia nunca estará garantida, e sem contraditório, sequer é democracia. Socorrê-la é obrigação de todos os democratas.