Julgamento de autarcas da Maia começou hoje. Silva Tiago enfrenta segundo pedido de perda de mandato

Julgamento de autarcas da Maia começou hoje. Silva Tiago enfrenta segundo pedido de perda de mandato

Em 14 de Outubro de 2021, o Jornal da Maia noticiava que, segundo nota da Procuradoria Geral Distrital do Porto, o Ministério Público deduziu acusação contra seis arguidos, a saber, o atual presidente da Câmara Municipal da Maia, Silva Tiago; o antigo presidente Bragança Fernandes; o atual vereador Hernâni Ribeiro; os ex-vereadores Ana Vieira de Carvalho e Nogueira dos Santos e ainda o ex-administrador delegado do SMEAS, Albertino Silva, imputando-lhes a prática de crimes de peculato, por apropriação indevida de dinheiros dos SMAES – Serviços Municipalizados de Eletricidade, Água e Saneamento da Câmara Municipal da Maia, no valor de 52.716,85 euros.

Julgamento foi hoje e arguidos não prestaram declarações

O julgamento, marcado para o 6º Juízo Criminal de Vila do Conde, deslocado para o Palácio da Justiça de Matosinhos, teve lugar hoje, a partir das 9.30h e teve, como seria de esperar, despertado a atenção dos jornalistas.

À entrada do Tribunal, os arguidos não prestaram declarações aos jornalistas presentes, deixando a tarefa para o advogado Pedro Marinho Falcão que disse tratar-se de um processo em que o seu cliente está acusado de ter autorizado despesas «Feitas bem as contas significa, ao longo de cinco anos, cerca de 100 euros por mês divididos por cinco autarcas e portanto, é um processo que de facto não se consegue perceber muito bem por que razão o Ministério Público avançou com a acusação e nós, vamos naturalmente demonstrar que estamos a cumprir, ou que o presidente da câmara e demais autarcas cumpriram aquilo que a Lei determina relativamente ás despesas que estão em causa», razão pela qual demonstrou que o grau de confiança é «total».

Quanto à estratégia da defesa, o advogado diz que «só vai passar por aí», reiterando que «este é o tema da defesa e é aquilo que já está neste momento a ser discutido em tribunal, via acusação, via contestação que foi apresentada».

Para Marinho Falcão «o que se passa é que, ao contrário do que aquilo que a comunicação social diz, o presidente da câmara não apresentou nenhuma despesa de refeição e está apenas acusado de ter autorizado o respetivo pagamento. Portanto, vai se demonstrar em que condições é que o pagamento foi autorizado», revela.

Confrontado com a responsabilidade de Silva Tiago sobre a autorização das alegadas despesas ilegais pela sua assinatura o jurista é perentório «não tem responsabilidade absolutamente nenhuma, na medida em que havia já uma previa autorização e, portanto, foi apenas autorizada ordem de pagamento. Não autorizar a realização de despesas é uma coisa completamente diferente, e é aqui que o ministério publico se baralha, porque confunde autorização para a realização da despesa, e autorização para pagamento», o que pretende demonstrar no julgamento.

Depoimento de Silva Tiago
Já dentro da sala de audiências, o presidente da Câmara Municipal da Maia, diz ter delegado «as despesas dos SMAS até 100.000 euros no diretor delegado», tomando apenas conhecimento das mesmas e acrescentou que «não escrutinava as despesas porque apenas o fazia acima de 100.000 euros», relatando que juntamente com os colegas da administração «apenas assinava», pelo que «não fazia sentido a sua assinatura porque estava Delegado».

António Silva Tiago afirma ainda «nunca ter remetido uma despesa aos Serviços Municipalizados».

Arguidos remeteram-se ao silêncio
Bragança Fernandes e Hernâni Ribeiro remeteram-se ao silêncio. Já a antiga vereadora Ana Miguel Vieira de Carvalho, quis responder ao tribunal.

A vereadora, à altura da Habitação, do Desenvolvimento Social e posteriormente dos Recursos Humanos, revelou que «as despesas de representação não incluem refeições» e que o administrador-delegado, o também arguido Albertino Moreira «tinha despesas de representação». Sobre Ana Vieira de Carvalho recaíram as perguntas «podem justificar-se viagens distantes Alentejo e Espanha» e «podiam validar despesas realizadas pelo próprio?», às quais não soube responder.

Referindo que a Maia era pioneira nos serviços disse que a aquisição de material informático apenas seria permitida «no interesse dos serviços». Outras questões foram colocadas à vereadora, de pormenor, como a aquisição de um computador “MacBook Pro” e de uma caneta “MontBlanc” de 900 euros.

O ex-vereador Nogueira dos Santos, também quis responder e sobre a sua integração no Conselho de Administração dos SMEAS refere que «era normal ser feita pelos vereadores» acrescentando que «não se diz que não ao convite».

O vereador «a meio tempo, sem despesas de representação», diz que passavam «mais de 40 pastas por sessão» e admitiu que «possam ter assinado despesas próprias», acrescentando que «assinava de cruz».

Nova audição dentro de 15 dias
Terminava assim a sessão da manhã. Devido ao apertado fecho da edição do jornal, dado que o julgamento decorreu no dia de ontem, já não foi possível assistir à sessão da tarde, ficando novas informações para posterior edição.

Podemos, no entanto, informar os leitores que nas audições da tarde terão sido ouvidas outras testemunhas e tratado de questões de pormenor, não havendo segundo apuramos, nada de conclusivo.

Há já agendadas duas novas sessões, dentro de 15 dias, a 31 de Outubro e a 11 de Novembro.

Bruna Pinto Lopes, jornalista
Bruno Sá Bacelar, jornalista

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