Luís Filipe Meneses dá um «Não rotundo ao Bloco Central!» e diz que, com Passos Coelho «começaram a cair de vez os “donos disto tudo»
Em artigo publicado esta madrugada nas redes sociais o antigo presidente do PSD continua a “puxar” das suas memórias para dar a sua opinião sobre um «bloco central, formal ou informal». Pelo meio conta a sua versão «daqueles dias» (do BPN e Baqnco de Portugal) e fala de alegadas pressões sofridas.
Fica aqui a publicação na íntegra:
«Em 2008, recém-chegado a líder do PSD, notavam-se os primeiros sinais da grave crise económica e financeira cujo empurrão exterior nos faria entrar em pré-colapso.
Nessa época reuni repetidas vezes grandes referências das empresas e da banca na sede nacional: Mira Amaral, Walter Marques, Cardoso e Cunha, Alípio Dias, Miguel Beleza, Tavares Moreira, entre outros.
A opinião era unânime, perante o contágio à Europa, nomeadamente ao seu sector financeiro, resultante da crise do sistema de crédito hipotecário americano, Portugal entraria em colapso agudo.
A enorme exposição ao exterior decorrente de uma dívida pública e bancária ancoradíssima em empréstimos externos, com um consumo privado em roda livre e com um défice orçamental descontrolado e em crescimento galopante, o desastre estava à vista.
Fui também alertado para o que era um perigoso factor adjuvantes, a “balda” e o compadrio que, numa época nuclear, o haviam tomado de assalto a supervisão financeira e bancária.
Foi a época em que um Governador do Banco de Portugal teve o desplante de convocar alguns, só alguns, dos acionistas do BCP, e em pleno banco central liderar um golpe de estado que impôs uma nova administração mais do agrado do poder político constituído.
Foram nesses dias que também me chegaram rumores de que Manuel Pinho poderia saltar do Governo para a liderança da Caixa Geral de Depósitos.
Foi nessa semana que tive igualmente informação fidedigna de que algo de muito grave se poderia estar a passar no BPN, com o beneplácito da timidez do Banco de Portugal.
Ainda em visita à Madeira reagi e recordei que, não havendo uma norma escrita ou qualquer imposição legal, existia um “gentleman agreement” que fazia com que o Banco de Portugal e A Caixa fossem liderados por figuras tecnicamente inquestionáveis, mas de espectros partidários diversos. Foi essa minha posição veemente, e algum apoio “silencioso” do PR, que fez o Governo recuar e nomear Faria de Oliveira para Presidente da CGD.
Chegado a Lisboa, em reunião de emergência com a Comissão Permanente, decidimos dar carta branca ao Líder Parlamentar, Pedro Santana Lopes, para preparar um texto de propositura de concretização de uma comissão de inquérito à forma como estava a decorrer a fiscalização do sistema bancário e que abalizasse em concreto a situação do BPN. Com a sua habitual frontal idade e coragem não hesitou um minuto.
Começou a prepara a iniciativa em que não havia nada de extravagante, até porque ela apontava para algo importante a jusante: a reforma dos instrumentos de fiscalização, como em anos antecedentes tinha acontecido nos super institucionalistas USA e Grã-Bretanha.
Caiu o Carmo e a Trindade. Ex-Ministros do PSD, por acaso bem ligados ao actual status quo, desfilaram pela TV numa crítica amarga a uma “liderança leviana”, que queria impor militantes para lugares públicos (leia-se Caixa) e minar a credibilidade impoluta do Governador e do Banco Central. “Irresponsabilidade” bramavam.
A maioria da imprensa, muito por ignorância, ajudou ao coro. Dias depois tive as primeiras deserções na Comissão Política, a começar pelo Senhor Joaquim Coimbra (aliás pessoa que havia sido sempre correcta, aparentemente bem-intencionada e afável), mas que era um dos acionistas de referência do BPN.
No dia seguinte um ex-Ministro de “armação pesada”, telefonou-me a aconselhar-me a suspender as iniciativas parlamentares, pois estava a ter um péssimo acolhimento nos investidores. Acrescentou “não jogue nesta coisa, que não é a sua guerra, todo seu futuro político”. “Deixe cair o assunto”.
Muitos outros factos se sucederam, que um dia serão contados e que reforçaram esta pressão insuportável. Destes que aqui enumerei nem preciso de grande prova, a maioria foi à época noticiada a granel.
Eu demiti-me em finais de Abril.
Constância foi rapidamente para um asilo dourado, uma espécie de emplastro do Presidente do BCE (para nosso descanso devia ser mesmo só emplastro).
Santana saiu e com ele caíram os inquéritos à banca, que muito mais tarde foram repristinados no Parlamento, quando o buraco já era maior dos que foram antevistos pelo Professor Hawking!
Nesses inquéritos foi particularmente performante o CDS e o deputado Nuno Melo.
Sentimo-nos então levemente ressarcidos no reconhecimento tardio, mas claro dos nossos maiores temores.
No entanto, a liderança de Ferreira Leite, ela própria quadro do Banco de Portugal, mesmo que rodeado por alguns dos banheiros do SPA da ética – Pacheco e Rio – protagonizou um período de acalmia para os galifões do sistema.
O pior é que felizmente, depois veio o Passos e começaram a cair de vez os donos disto tudo.
O caminho faz-se caminhando e alguns tem que se sacrificar para outros conseguirem resultados.
É a lei da vida, e não é má…
Esta nota é um não rotundo ao bloco central. Formal ou informal. Quanto maior a separação das águas melhor. Uma grande concentração de poder, mesmo que só através da informalidade dos acordos de bastidores, só conduz ao pântano.
É mau para a esquerda, péssimo para a direita e um desastre para o País», diz o ex-presidente.