A minha primeira vez… na 20
Sempre ouvi dizer que viajar de transportes públicos, por vezes, é sinónimo de aventura. Durante os tempos de juventude, viajei muitas vezes de autocarro. Em miúdo comecei a tratar por “tu” as linhas 9, 29, 49, 59, 78 ou 95. Perdemos a conta às vezes que esperamos eternidades até chegar o trólei, fosse ao frio, à chuva ou ao sol. E relembramos bem as tentativas de nele entrar e sermos brindados com lotação esgotada, qual sardinha em lata, num fim de tarde onde os corpos suados não são propriamente a melhor sensação do mundo.
Quem como eu, morava em Pedrouços e Águas Santas, o cruzamento da Areosa era o ponto de referência. Sejam carros, autocarros, lojas, transeuntes e até carteiristas. Este era o local onde se entrava na cidade e ficavam para trás os arrabaldes – Gondomar e a Maia. Aí pontificava o sinaleiro, essa personagem que os mais novos já só ouviram falar, o homem guarda de trânsito que comandava o fluxo de trânsito nos cruzamentos. Sempre bem apresentado, de chapéu e luvas brancas, por isso, era apelidado de cabeça de giz. Um deles era conhecido por Zé Garrafas e por vezes, lá se ausentava para ir às iscas da Mamas Gordas. Como é bom recordar tempos em que o “tempo” parecia andar mais devagar.
Era a época em que o célebre 95 rendilhava grande parte do concelho, agora temos, julgo ser o 600 que vem dos Aliados, entra pela Santana e desagua em Barca; o 603 que vem do Marquês, passa por Pedrouços e termina no Zoo da Maia e o 705 que vem do Hospital S. João, entra em Parada e despede-se nos 4 Caminhos.
Mas isto vem a propósito da minha primeira viagem na Maia Transportes, a empresa que percorre o nosso concelho com 15 linhas. No espaço de dois dias, os dois carros lá de casa combinaram avariar ao mesmo tempo e lá tive de recorrer ao Mini Bus da linha 20, Maia-Vila Nova da Telha. Essa linha já me era familiar, pois é utilizada pelos meus filhos e, através deles, chegam-me relatos semelhantes aos que vivi em miúdo. O que nem sempre se traduz em viagens prazerosas.
Preparado para 20 minutos de viagem, depois de tirar o bilhete – 1,55 €, lá parti eu do Parque Central até ao CICOPN, quase na fronteira da Trofa com o nosso Castêlo. No interior do veículo de 15 lugares sentados e alguns de pé, seguiam 11 pessoas, quase todas mulheres mais velhas e dois petizes estudantes entretidos com o telemóvel e fones nos ouvidos a pensar nos tik-toks desta vida. Elas reclamavam com o prestável condutor, o Tiago, que já bem conheciam, sobre as condições das viaturas. Por vezes, ou serão muitas vezes, as portas não abrem correctamente, quando o autocarro vai cheio, em pequenas subidas, a velocidade não alcança 5 km por hora, chegando ao ponto de ter quase que “se atirar carga ao mar” para ultrapassar as leis da física e da balança ou então, não parar nas paragens ao sinal do público, alegando estar cheio, ficando o povo mais uma hora à espera.
Ao olhar para o interior da viatura só pensava: “E se isto viesse cheio? Como naqueles concursos de 1981, o Passeio dos Alegres do Júlio Isidro, de ver quantos cabiam num Mini?” (Nessa altura, couberam 27 pessoas com mais de 13 anos). Mas, contavam as fiéis clientes que outro dia, uma sua parceira de viagens tinha caído nas escadas ao descer de um destes veículos. Outra retorquiu: – “Agora a coisa vai melhorar, vem aí a Alexandra, a da TAP, e vai comprar novos autocarros!”. Parece que o Zé Povinho por vezes anda a dormir mas elas sabiam quem era.
Como tal, Sra. Alexandra, aqui fica o pedido: se possível, maior frequência em determinados períodos e mais manutenção, sff. Os utentes, a grande maioria, idosos e estudantes agradecem. E rapidamente, lá cheguei eu ao destino pretendido, são, salvo e mas muito mais enriquecido depois de ouvir palavras tão sábias.