Águas Santas: por enquanto só Santas
As perturbações na rede de distribuição de água em Águas Santas têm-se tornado, nos últimos tempos, cada vez mais frequentes, causando transtornos significativos à população. Esta tradição, que há vários anos afeta os moradores da Freguesia, não dá sinais de melhoria a curto prazo, levantando a necessidade urgente de soluções que minimizem os impactos no quotidiano dos Aquisantenses.
Como uma das maiores Freguesias do Concelho da Maia, Águas Santas, com cerca de 27.000 habitantes, enfrenta o desafio de uma rede de abastecimento de água envelhecida. A degradação desta rede tem provocado sucessivas ruturas e avarias, particularmente na Zona do Corim. Muitos residentes relatam episódios mensais de interrupção no abastecimento, sem que qualquer solução duradoura tenha sido implementada ao longo de todos estes anos.
A resposta do SMAS (Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento da Maia) foi a instalação de uma nova rede de distribuição de água, uma intervenção necessária para garantir um serviço adequado e acompanhar o crescimento demográfico da Freguesia. A obra, a cargo da empresa Construções Pardais – Irmãos Monteiro, LDA, representa um avanço importante, mas prevê-se que se prolongue até, pelo menos, 30 de Setembro de 2026, gerando, inevitavelmente, mais constrangimentos.
A intervenção tem causado perturbações significativas, tanto no trânsito (sobretudo em vias centrais como a Rua D. Afonso Henriques), como no abastecimento de água, afetando com maior incidência as zonas do Corim, Picua e Granja. Apesar de o SMAS ter anunciado um plano rigoroso e faseado para minimizar os impactos negativos, bem como um plano de comunicação para manter os moradores informados, muitos Aquisantenses sentem que essas medidas não têm sido eficazes.
Um exemplo recente é o corte de água ocorrido a 17 de Dezembro, que teve início às 21h e se prolongou até às 10h do dia seguinte. Para os moradores da zona da Picua, isto significou uma interrupção em momentos críticos – durante o jantar e ao início do dia. Estas situações geram descontentamento entre os residentes, que consideram os horários escolhidos pouco adequados.
Nas redes sociais e em portais de reclamações, multiplicam-se os testemunhos de desagrado. Um morador afirmou: “É uma vergonha. Uma pessoa chega a casa às 20:30, tenta fazer as coisas do dia a dia, e a água já está cortada. Nem sequer cumprem horários. Se fosse às 23h ou à meia-noite, ainda entendia, mas às 21h? Como é que uma pessoa toma banho? Como faz o jantar?”.
Apesar de não ser especialista em Engenharia, parece-me razoável propor que os cortes de água sejam realizados durante a madrugada, minimizando o impacto nas rotinas da população. Ainda que implicasse um possível atraso na conclusão da obra, muitos moradores prefeririam uma abordagem que lhes causasse menos transtornos.
Outro ponto de crítica é a comunicação. O SMAS tem procurado avisar as populações das interrupções com a maior antecedência possível, utilizando principalmente as redes sociais, como o Facebook, e o envio de emails para quem preencheu um formulário específico. No entanto, muitos residentes consideram essas iniciativas insuficientes. Um dos relatos mais frequentes é: “Mais um corte de água avisado em cima do joelho.”
Embora tenham sido distribuídos panfletos e a Junta de Freguesia esteja a colaborar na divulgação das informações, estas medidas não têm alcançado toda a população, especialmente os mais idosos ou aqueles que não utilizam meios digitais.
A diversificação dos canais de comunicação parece ser uma necessidade urgente. Dentro das restrições do RGPD (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados), seria possível implementar soluções como o envio de SMS ou cartas com maior antecedência, garantindo que todos os moradores estejam devidamente informados e se possam preparar para os cortes de água.
Não está em causa a legalidade ou a boa-fé dos intervenientes nesta obra. O que está em causa é a qualidade de vida dos Aquisantenses, que merecem um investimento que, além de modernizar a rede de distribuição, seja conduzido de forma a respeitar as suas necessidades quotidianas.
É fundamental transformar estas dificuldades em oportunidades, reforçando a confiança dos moradores no serviço prestado e construindo uma infraestrutura que permita a Águas Santas crescer com a dignidade que o seu nome e importância merece.
A nossa esperança é que, no futuro, Águas Santas seja verdadeiramente “Santa” – em todos os sentidos.
Se, entretanto, não nos virmos, desejo-vos um Santo Natal, e boas entradas!
Rui de Moura Pinheiro
Morador de Águas Santas
Dirigente do CDS-Partido Popular da Maia
Presidente da Juventude Popular da Maia