Auto da Barca do Inferno- O Tribunal dos Pecados
Prólogo
Ó vós, que andais pelos salões do poder, atentai para o triste espetáculo desta peça, onde os pecados dos governantes se pesam na barca do juízo eterno. Eis que se reúnem nesta travessia as almas errantes da política portuguesa, para que o destino julgue cada artimanha, cada segredo e cada promessa quebrada, e para que a luz da sensatez, representada por Rui Rocha, ilumine os caminhos da redenção.
Cena I – A Chegada dos Condenados
(Do alto da margem, o Narrador proclama:)
“Vinde, almas errantes, que habitais os recantos sombrios deste país, e apresentai-vos perante o tribunal dos vossos pecados!
Desembarca Luís Montenegro, o primeiro-ministro que se deixou envenenar pelos interesses escusos da Spinumviva, e cuja administração se manchou com o veneno da corrupção.
Segue, impetuoso, Pedro Nuno Santos, o incansável moralista, que clama pela expiação e pela purificação da nação, exigindo que cada segredo seja desvelado.
Surge também André Ventura, o insurgente fervoroso, que exige com voz de trovão a erradicação dos corruptos, para que a pátria se liberte de toda impureza.
Chega, enfim, Marcelo Rebelo de Sousa, o Príncipe da Paz, que com serenidade tenta mediar este tumulto, ciente de que o juízo final é inescapável.
E, em meio a estes, desponta Rui Rocha, o sensato e lúcido, cuja clareza de pensamento e confiança na razão brilha como farol na escuridão do poder desmedido.”
Cena II – O Diálogo dos Pecados
(O Condutor da Barca, com voz retumbante:)
“Luís Montenegro, tu que permitiste que os interesses particulares manchassem a tua administração, confessa os teus pecados, pois o veneno que espalhas já corrompe o destino do teu governo!
Pedro Nuno Santos, com a firmeza de um juiz severo, clama: ‘A verdade deve ser exposta, e os segredos, desvelados, para que o povo se liberte da sombra dos enganos!’
André Ventura, inflamado, exorta: ‘Que os corruptos sejam purgados sem misericórdia, para que a nação possa renascer limpa e justa!’
Mas eis que se ergue Rui Rocha, a voz da razão e da lucidez, dizendo: ‘Calmai, vós, que vos perdestes nas paixões e nas ambições! Só a clareza e a verdade poderão guiar este país para um futuro digno. Não há redenção na simples condenação, mas na transformação que nasce do entendimento honesto e do diálogo sincero.’
E tu, Marcelo Rebelo de Sousa, com o peso da experiência, adverte: ‘Que cada alma se encare com os seus pecados, mas que também haja espaço para a renovação daqueles que, com verdade, se esforçam por mudar o destino.'”
(Montenegro, com voz embargada, replica:)
“Ó Condutor, jurei à nação ser exemplo de transparência, mas permiti que o escuro veneno dos interesses escusos se infiltrasse no meu governo. Contudo, creio que, com os remédios dos curandeiros políticos e a orientação de Rui Rocha, possa recuperar a confiança perdida.”
(Pedro Nuno Santos, austero:)
“Se a regeneração não vier da exposição e do expurgo dos segredos, nenhuma manobra poderá limpar a tua consciência, Luís Montenegro!”
(André Ventura, com ardor:)
“Que não se adie a justiça! Se a nação clama por castigo, que os corruptos sejam destituídos sem remédio, para que o novo dia se erga sem as sombras do passado!”
(Rui Rocha, sereno e resoluto:)
“Não se trata de mera punição, mas da busca pela verdade e pela reconstrução. É necessário que os vossos pecados sejam reconhecidos, mas que também se permita um caminho de redenção para os que, verdadeiramente, se esforçam por mudar. Que a sabedoria e o diálogo conduzam este naufrágio para um porto seguro.”
(Marcelo Rebelo de Sousa, com voz de conselho:)
“Calmai, ó almas perdidas! Pois o juízo que vos aguarda é inexorável, mas também é certo que aqueles que se curam dos seus enganos podem encontrar, por um breve instante, a esperança de um recomeço.”
Cena III – A Travessia e a Redenção
(O Condutor, solenemente:)
“Eis que a barca parte, levando os pecadores rumo ao juízo final. Luís Montenegro, cujo governo se viu envenenado pelos negócios ilícitos, foi socorrido pelos médicos e curandeiros políticos, que lhe aplicaram os remédios secretos – planos e negociações que, à semelhança de um tratamento milagroso, o restauraram do envenenamento. Ressurgiste, ó Montenegro, não como um mártir condenado, mas como um homem renovado, pronto para enfrentar as urnas e, quem sabe, reconquistar a confiança do povo.”
(O Anjo Guardião, recitando:)
“Cada alma, na barca, medirá os seus pecados,
Mas aquele que se regenera com razão e remédio divino,
Poderá ter, por um breve instante, a chance do perdão,
E assim, caminhar rumo a um novo amanhecer.”
Epílogo
(Do alto, o Narrador conclama:)
“Assim se encerra o Auto da Barca do Inferno – um retrato satírico do atual cenário político português. Luís Montenegro, cujos atos se viram envenenados por interesses escusos, enfrenta agora o juízo dos seus pecados; Pedro Nuno Santos, o incansável moralista, clama pela verdade; André Ventura, o insurgente ardente, exige a purificação radical; Marcelo Rebelo de Sousa, o Príncipe da Paz, tenta mediar o caos; e Rui Rocha, o sensato e lúcido, ergue-se como farol de esperança, guiando os que buscam um caminho de redenção e reconstrução.
Que este auto sirva de lição aos que se perdem nos labirintos do poder, pois na barca do juízo, os pecados não se ocultam, e a verdadeira redenção exige não só castigo, mas também sabedoria e diálogo.
Vinde, pecadores, e embarcai – o destino vos espera, e o juízo é inexorável!”
Opinião de António Fonseca
Coordenador da Iniciativa Liberal da Maia