Envelhecimento e Doença
É fundamental distinguir o envelhecimento normal dos processos patológicos (doenças) que o acompanham e para os quais a idade constituiu um fator de risco. Ainda não é possível retardar ou fazer regredir o envelhecimento. Pelo contrário, o tratamento das doenças que afetam o doente idoso, diminuindo a esperança de vida ou originando sequelas, tem sido cada vez mais eficaz. Quase todos os anos surgem novos fármacos e novas técnicas que proporcionam evidente melhoria das condições de saúde e bem-estar.
Vejamos o exemplo da Aterosclerose Arterial (AVC, Enfarte do Miocárdio…), a principal causa de morte do idoso de meia-idade (> 75 anos). A idade, o colesterol elevado, a hipertensão arterial, o tabagismo e a diabetes, entre outros, são os principais fatores de risco para génese desta doença. A idade, neste contexto, parece ser o fator preponderante. A aterosclerose desenvolve-se progressivamente através da evolução contínua de lesões da parede arterial centradas na acumulação de gorduras ricas em colesterol e na resposta inflamatória subsequente.
Repare-se que a idade tem uma enorme influência no cálculo do risco do acidente cardiovascular fatal e não fatal, a 10 anos, para os indivíduos com idade entre 40-69 anos (quadro B1, à esquerda) e de forma mais evidente ainda entre os 70 e os 90 anos (quadro B2, à direita).

A partir dos 75 anos não há indivíduos em baixo risco (zona verde) e quase todos se situam em risco muito elevado (zona vermelha), independente dos valores de colesterol, pressão arterial e sexo. Todos estes indivíduos devem ser avaliados e são candidatos a tratamento. É certo que estamos a falar de risco a 10 anos em pessoas com mais de 70 anos, mas relembramos que estamos a referir-nos à principal causa de morte, para a qual a prevenção e, mesmo, o tratamento de situações críticas tem proporcionado muito bons resultados.
De salientar também que a esperança média de vida em Portugal ultrapassa já os 80 anos, facto que modificou também a atitude preventiva. Enquanto estudante na Faculdade de Medicina do Porto dizia-se que a aterosclerose evoluía inexoravelmente com a idade, o que não é verdade. É possível, hoje, suster a evolução e até promover a regressão da doença. Ao contrário do que se recomendava antigamente, os estudos mais recentes vieram demonstrar que o tratamento com Estatinas em regime intensivo após os 75 anos obtiveram uma redução absoluta no número de acidentes cardiovasculares cerca de 10 vezes superior em comparação com os grupos mais jovens. Considera-se regime intensivo quando se utilizam doses elevadas de Estatinas e se pretende atingir valores de colesterol muito abaixo dos valores normais, em regra , redução de 50% do colesterol total. Mesmo na hipótese de, em breve, vir a ser possível atrasar o envelhecimento biologicamente tido como normal, não sabemos se existiria, concomitantemente, atraso ou regressão da aterosclerose arterial. Não nos resta, então, outra atitude que não seja diagnosticar precocemente e promover o tratamento.
Envelhecer saudavelmente significa prevenir, identificar precocemente e tratar as doenças que afetam os idosos e promover hábitos saudáveis no que se refere à alimentação e ao exercício físico.
Opinião de Ovídio Costa
Cardiologista e professor da FMUP.