«Há muita gente que põe os interesses partidários acima do interesse público»
Emília Santos, a deputada maiata do PSD eleita pelas listas do distrito do Porto, acaba de tornar público a sua vontade de não voltar a integrar as próximas listas concorrentes às eleições legislativas.
Nascida em 1972, licenciada em Psicologia, pós-graduada em Comunicação e Marketing Político, discente de Mestrado em Gestão e Politicas Públicas fez parte das 12ª e 13ª legislaturas, tendo, nesta última, desempenhado as funções de Secretária do Parlamento, membro das Comissões de Saúde (Suplente); de Ambiente, Ordenamento do Território, da Descentralização, Poder Local e Habitação (Suplente) e dos grupos de trabalho do Parlamento dos Jovens e do Pacote da Descentralização.
Entre 2007 e 2010, foi chefe da Divisão de Educação da CM Maia e entre 2010 e 2011, chefe do Gabinete do Presidente da CM Maia.
Em fim de mandato, altura para fazer uma pequena entrevista, onde aborda temas gerais da sua vida política.
MaiaHoje – A senhora Vereadora acumulou durante estes últimos anos o seu trabalho com o de deputada à Assembleia da República, onde foi também membro da mesa do plenário. Com novo ciclo político à porta e não se sabendo ainda as listas dos partidos, aceitará novo convite?
Emília Santos – A continuidade como deputada foi um assunto abordado há alguns dias no seio do PSD da Maia. O presidente do PSD Maia reconheceu o bom trabalho que desempenhei no Parlamento e abordou-me quanto ao meu interesse e/ou disponibilidade em continuar numa próxima legislatura. Entendo que esse ciclo terminou.
Aliás, quando, em 2017, fui eleita para o executivo municipal da Maia, entendi que se impunha cumprir até ao fim o meu mandato como Deputada à Assembleia da República, por duas ordens de razões: por respeito para com aqueles que me elegeram para tal cargo e porque, para mim, foi uma forma de, também no Parlamento, continuar a defender os interesses da Maia.
Contudo, essa solução foi sempre encarada como temporária.
Chegou o momento de ficar com os dois pés na Maia e o meu coração entregue à Educação, Ciência e Saúde.
Sinto, contudo, que honrei a confiança que as pessoas depositaram em mim, mas dois mandatos no parlamento são um ciclo suficiente. Se eu estou sempre a falar da importância da renovação na política tenho de ser também um exemplo dessa renovação, permitindo que ela aconteça. Mas, acima de tudo, quero construir um novo ciclo, ainda mais dedicado à minha terra. Será um ciclo sobretudo de política local, mais focado nos temas e nos problemas do concelho e das pessoas da Maia. Espero que seja tão produtivo quanto o trabalho no Parlamento.
MH – Que recordações traz, pela positiva e pela negativa, de todos estes anos no Parlamento?
ES – Pela positiva, o Parlamento deu-me verdadeiras oportunidades de defender as minhas ideias e levar para a Casa da Democracia os problemas reais das pessoas e das instituições. Defendi problemas dos municípios e das populações. Temas como a Variante à Estrada Nacional 14, a continuidade da linha de metro Ismai-Trofa, os diplomas do arrendamento, da falta de pessoal auxiliar nas escolas e da agregação das freguesias foram temas que acompanhei com especial responsabilidade. É verdade que estou muito ligado à Educação, mas fui também uma voz ativa nos temas do Poder Local, aquele que está mais próximo do povo.
No Parlamento vi crescer as minhas capacidades e consegui dar destaque aos assuntos que me foram confiados.
Pela negativa, levo a consciência de que há muita gente que põe os interesses partidários acima do interesse público. Isso é uma das doenças da política.
Por outro lado, também pela negativa, percebi que na política é muito fácil vermos os “justos pagarem pelos pecadores”. Ou seja, a opinião pública julga os políticos todos como iguais, medindo todos apenas pelos maus exemplos. Isso faz com que cada vez menos gente se interesse em exercer um cargo público.
MH – O que acha ter ganho ou que contribuiu para a sua evolução pessoal e profissional, a sua passagem pelo Parlamento?
ES – Ao nível pessoal, creio que venho mais preparada para lidar com as adversidades, porque a exposição pública torna-nos mais rijos, mais fortes. E até mais corajosos. O parlamento deu-me essa força. E deu-me reconhecimento pela combatividade nos temas à minha responsabilidade.
Do ponto de vista profissional, saio do parlamento com um forte nível de conhecimento sobre o país. Pelas discussões em que participei, pelos temas que fui chamada a estudar, pelas pessoas (técnicos, especialistas, cidadãos) com quem me reuni, acho que sou hoje profissionalmente mais completa.
MH – Passos Coelho ou Rui Rio, quem mais a marcou?
ES – São duas figuras marcantes e muito parecidas em diversos aspetos. A importância que dão ao interesse público, o rigor nas contas, o cuidado com o impacto futuro de cada medida política, etc. Mas a convivência com Passos Coelho foi mais regular, por ter integrado a Comissão Política Nacional, por ter sido líder durante mais tempo e ter sido PM. Talvez essa convivência me tenha marcado mais. Mas Rui Rio ainda vai no início da sua liderança.
MH – Com mais tempo para o concelho, que objetivos ainda persegue na Câmara Municipal até final de mandato?
ES – Os objetivos são sobretudo relacionados com a melhoria das condições para os alunos e para as suas famílias. Para os alunos, queremos melhores equipamentos e pedagogias. Felizmente tenho uma equipa fantástica que está ao meu lado tanto na concretização como na idealização. Para as famílias quero que tenham mais condições de educar e acompanhar os filhos. É preciso estar ao lado das famílias com maiores dificuldades. Um dos lemas é não deixar ninguém para trás. Também ao nível da saúde temos um longo percurso a preparar a descentralização de competências para o poder local, com todas as consequências que daí decorrem.
MH – Se lhe for endereçado o convite, nas próximas autárquicas, aceitaria de novo participar no projeto do Engº Silva Tiago?
ES – Certamente! Temos um líder correto, competente e dedicado. Um visionário. Temos uma equipa dinâmica e um bom projeto, que estamos a saber concretizar. Penso que os maiatos o reconhecem e percebem que a Maia é um exemplo nacional em várias áreas: na educação, no ambiente e higiene urbana, no desporto e no desenvolvimento social. Creio que os Maiatos gostariam que a equipa e o trabalho se mantivesse.