Maia| Gustavo Teixeira e Leonor Magalhães, campeões mundiais de kickboxing
Realizou-se em Viena, na Áustria, entre 23 e 27 de Outubro, o Campeonato do Mundo de Kickboxing da ISKA Amateur Association, tendo participado, a nível de seleção, cerca de 30 países, entre os quais Portugal. A equipa lusa contou nas suas fileiras com três representantes da equipa maiata “Rb Kickboxing Team- Núcleo Moreira da Maia”, a saber, Ana Meneses, Gustavo Teixeira e Leonor Magalhães que arrecadaram três medalhas, respetivamente uma de prata e duas de ouro.
Esta modalidade, em Portugal é alvo de alguma polémica sobre quem a representa, mas polémicas à parte, fomos falar com Sérgio Martins, mestre dos mais recentes campeões mundiais de Kickboxing da ISKA Amateur Association.
Maia Hoje (MH): O que é o Kickboxing e em que é que difere das outras Artes Marciais?
Sérgio Martins (SM): O Kickboxing nasceu da fusão do Karaté com o Boxe, pela necessidade que os atletas dessas modalidades sentiam em que houvesse uma modalidade mais completa, onde existisse mais contacto.
O Kickboxing, (em relação às outras artes marciais), tem regras muito particulares onde a forma de combater obriga a que seja um combate continuo, até ao final do tempo estipulado de combate que podem ser 2 ou 3 minutos. O combate é dividido por Rounds com intervalos entre eles. Durante esse tempo o atleta tem de combater de forma contínua respeitando todas as regras da modalidade. Noutras artes marciais, a cada ponto marcado os atletas param o combate e regressam ao Centro para dar de novo início ao jogo.
MH: Como é que se atrai um jovem para a modalidade?
SM: Não somos nós que atraímos os jovens, na verdade eles é que acabam por se sentir atraídos. Todos somos diferentes e há pessoas que têm necessidade de experimentar este tipo de modalidades para se completarem a nível pessoal.
Diariamente trabalhamos com os atletas de forma a mostrar que o Kickboxing não é só um desporto de combate, é um local onde existem regras, onde temos de nos respeitar mutuamente, etc.
O facto de ser uma modalidade tão completa a nível de treino físico e mental, onde existe muito trabalho de coordenação, faz com que seja procurada como forma de “aliviar o stress”, muitas vezes também para autocontrole, aumento de autoestima, entre outros motivos.
O Kickboxing é uma modalidade que é procurada pelos mais variados motivos. E quem gosta da vertente do contacto, da competição pelo alcançar de objetivos (até porque mesmo na nossa vida pessoal somos pessoas em busca de objetivos) o Kickboxing é uma modalidade que nos obrigada a entender que para alcançar qualquer objetivo exige esforço, dedicação e disciplina.
MH: Três atletas da associação Rb Kickboxing Team- Núcleo Moreira da Maia representaram a Seleção Nacional no Campeonato do Mundo de Kickboxing na Áustria. Ana Meneses, Gustavo Teixeira e Leonor Magalhães arrecadaram três medalhas (uma de prata e duas de ouro, respetivamente). Como é que foi todo este processo desportivo?
SM: Os resultados obtidos por estes três atletas são fruto de muito “trabalho de casa”. Estes atletas para se prepararem para a prova estavam a treinar diariamente nos mais variados locais e vertentes.
A preparação para uma prova destas não pode passar apenas pelo nosso espaço de treino, é muito importante trabalhar também outras vertentes mais específicas para estarem realmente preparados, por isso fizeram não só treinos de Kickboxing mas também treinos de Boxe, Muaythai e reforço muscular. Foram treinar também às nossas outras duas escolas para terem diferentes parceiro de treino, obrigando-os desta forma a sair da zona de conforto. Tudo isto dividido por semanas. Todos os dias tinham um tipo de treino diferente e todos os dias treinavam de 1.30h a 3h, nunca menos que isso.
Para mim, foi muito fácil trabalhar com estes atletas porque são realmente atletas aplicados e focados. Todo o trabalho que lhes era dado, era realizado. Cada treino diferente que era proposto, era aceite. E mesmo estando todos em fase escolar não se opuseram a ir treinar mais tarde, ou a locais mais afastados, chegando muitas vezes tardíssimo a casa, mas foram sempre capazes de organizar horários e a não falhar a nenhuma das responsabilidades diárias que têm e isso enche-me de orgulho.
MH: Percebemos que há todo um longo caminho de preparação e que, desportivamente, nada acontece por acaso. Mas há também uma parte importante que é o pagamento das despesas. Como é que um pequeno clube consegue levar atletas a um Campeonato do Mundo e sair de lá com dois títulos mundiais e um pódio?
SM: Não é fácil para um clube como o nosso conseguir suportar os custos que existem num Campeonato do Mundo. Cada atleta teve de pagar 2.229 euros para estar presente.
Mas como faz parte apoiarmos os sonhos dos nossos atletas, e se eles foram selecionados é porque mereciam mesmo lá estar, então organizamo-nos entre pedidos de patrocínios, organizações de festas de angariação de fundo, participação na Festa da Nossa Sra. Mãe dos Homens onde o lucro obtido foi dividido pelos três, entre outras atividades, claro sempre com o apoio dos pais e de todos os nossos atletas. Ainda assim ficamos aquém do valor final, cada atleta ainda teve de pagar uma parte. Esperamos ainda que as autarquias destes atletas os apoiem ajudando a colmatar esta despesa.
Efetivamente o valor é alto e não foi fácil, mas quando há vontade e persistência tudo se consegue.
Na minha opinião estes atletas deviam ser vistos de forma diferente por parte das autarquias, porque o nível de visibilidade de um campeonato destes trás muitos benefícios para o conhecimento das localidades a nível nacional. E estamos num país onde a nossa modalidade ainda não é muito reconhecida.
MH: Quantos atletas há em Portugal e no Clube? Como se podem inscrever?
SM: Na nossa equipa temos cerca de 250 atletas divididos pelas 3 escolas (Leça da Palmeira, Póvoa de Varzim e Moreira da Maia)
O nosso Núcleo é a escola mais pequena, somos cerca de 40 atletas. A forma de inscrição é muito simples, basta entrar em contacto connosco através das nossas redes sociais (Facebook e Instagram) ou por telemóvel para o nosso contacto, marcar um treino experimental, sem qualquer custo nem compromisso, após isso decidem se correspondeu às expectativas e juntarem-se a nós.
Seguidamente o atleta inscreve-se na Federação Portuguesa de Kickboxing e Muaythai, e a partir daí define os seus próprios objetivos e nós cá estamos para em conjunto ajudar a alcançá-los.
MH: Pelo que sabemos, esta é a segunda vez que a Leonor se sagra campeã do mundo. O que é que ainda falta fazer?
SM: Para a Leonor ainda falta fazer muito. Estamos apenas no início. Este início tem sido completo a 100% por parte da Leonor, por isso todas as oportunidades que apareçam para elevar o nome desta atleta estaremos sempre prontos a agarrar.
Para mim como treinador também é algo novo e recente, daí também me obrigar cada vez mais a evoluir para conseguir dar sempre as melhores respostas a estes eventos em que temos participado e alcançado ainda mais porque o número de atletas que estamos a colocar em palcos maiores aumentou do ano passado para este, com a Ana Meneses e o Gustavo Teixeira.
Aproveitando esta entrevista gostava de deixar o meu agradecimento ao meu Mestre Rui Baptista, que é o mentor da equipa, e que foi ele que me deu a oportunidade de lecionar e hoje chegar até aqui. Apoiando-me e alertando-me sempre nas diversas situações.
Ao Mestre Rodrigo Baptista o meu agradecimento também por impulsionar a equipa e por estar sempre disponível para partilhar a sua experiência com estes atletas e ajudar-me a prepará-los para esta prova.
Um obrigado a todos os atletas que fazem parte da equipa RB Kickboxing Team por estarem sempre do nosso lado e que também muito contribuíram para estes nossos atletas estarem no palco do mundo.