Maiata por convicção, no último mandato aos comandos da Cidade da Maia
Olga Cristina Rodrigues da Veiga Freire, advogada de profissão, é a atual presidente da Junta de Freguesia da Cidade da Maia, estando agora no seu último mandato. Depois de já ter desempenhado o cargo de presidente da Assembleia de Freguesia de Vermoim, Olga Freire assumiu os comandos da freguesia em 2013. De referir ainda que a presidente tem 52 anos e diz-se «tripeira de nascença», mas, em 2003, deixou a cidade invicta para vir morar para a Maia, onde se estabeleceu pessoal e profissionalmente.
Em entrevista ao MaiaHoje, Olga Freire fala do Passado, Presente e Futuro da freguesia Cidade da Maia.
MaiaHoje (MH): De 2003 até 2013, como é que chega ao momento em que é convidada para se candidatar à presidência?
Olga Freire (OF): Eu chego porque houve a desistência de um candidato. Nunca tinha pensado, em momento algum, em exercer uma função destas. Achava que era curioso pertencer ao Executivo, para perceber como é que a Junta de Freguesia funciona. Ser cabeça de lista nunca me passou pela cabeça. Foi uma questão de oportunidade, digamos assim, de responder também ao repto do doutor Aloísio Nogueira e do António Fernando e, posteriormente, pelo engenheiro Bragança Fernandes que era, na altura, presidente da Comissão Política. Não era algo que estivesse nos meus horizontes.
MH: Mas era algo que lhe suscitava interesse?
OF: Não, confesso que não. Desde miúda, confesso que sempre tive muita apetência, muita vontade e muito gosto em ajudar os outros e em estar disponível para os outros, faz parte do meu feitio.
Quando me propuseram ser cabeça de lista, achei que era uma forma de servir a população da minha freguesia e do concelho onde vivo. Mas, de modo geral, não foi um objetivo. São coisas que nos acontecem na vida e, ou nós aproveitamos e aceitamos o desafio, ou não. Em tom de brincadeira eu diria que também não tive grande oportunidade de recusar, mas não me arrependo desta decisão, gosto muito de exercer esta função. É muito gratificante, apesar de nem sempre ser fácil.
MH: Uma vez chegada ao cargo de presidente da Junta de Freguesia, o que é que a move?
OF: Servir a população que reside nesta freguesia e, sempre que possível, eventuais residentes que morem no concelho e que também precisem de nós. É mesmo um espírito de missão.
Claro que quero que a freguesia se desenvolva, que seja cada dia melhor, mas nós estamos aqui, principalmente, para satisfazer as necessidades das pessoas, de cada uma das pessoas.
MH: Passando ao tema central da entrevista, o Passado, Presente e Futuro da Freguesia, já disse que só veio morar para cá em 2003, mas desse ano até então, o que é que mudou, que diferenças é que denota?
OF: Nos tempos em que estudava vinha para aqui e sempre achei a Maia uma cidade bonita e com qualidade de vida. Portanto foi isso que me trouxe para o concelho. O centro propriamente dito da cidade, centro, ‘centrinho’, aqui na zona da Câmara, não mudou muito, está a começar agora a mudar, por exemplo com a demolição dos edifícios que estavam mais velhos.
Eu diria que a grande mudança na Cidade da Maia, e, diria, no concelho, foi, de facto, a requalificação dos Jardins do Sobreiro. Acho que essa é uma obra que ficará no mandato do presidente Silva Tiago e, por sorte, também nos meus. Esta já era uma pretensão de há muitos anos, ou seja, não foi este Executivo da freguesia ou da Câmara que chegou aqui e, passando a expressão, foram iluminados e conseguiram mais do que os outros. Não. Houve, de facto, várias tentativas para solucionar este problema. E eu acho que, hoje em dia, o Sobreiro deixou de ser um bairro e passou a ser, de facto, Jardins do Sobreiro, com novas acessibilidades, com uma cara completamente diferente. Foi uma operação muito significativa e que devolve à nossa freguesia uma parte do território que estava isolado. É muito bom ver, hoje, as pessoas a passearem no meio do Sobreiro, sem medo, o que contrasta com o que acontecia há uns anos atrás.
Não posso também esquecer de todas as obras que foram feitas, em especial no primeiro mandato, em Gueifães. Esta era uma freguesia que estava muito atrasada em relação à Maia e a Vermoim e, com a requalificação, quer do terreiro onde está a Junta de Freguesia, quer com a quase totalidade das ruas, aproveitando a substituição da rede de abastecimento de águas, as ruas e os passeios foram requalificados. Acho que hoje Gueifães, no que diz respeito a arruamentos e vias rodoviárias, está de facto a par do resto da freguesia.
Também o bairro Maia I e Maia II, em comparação com há uns anos atrás, perderam aquele aspeto de bairro, com a requalificação quer da parte habitacional, quer depois com a Avenida Santos Leite. Também estão diferentes e melhores.
Já durante o meu mandato, e quanto à Cidade Desportiva, apesar de ser um projeto do município, eu lembro-me de estar aqui na Junta e ainda haver as piscinas do Professor Vieira de Carvalho, que chegaram a estar tapadas com umas lonas e que, entretanto, foram demolidas e foi requalificado todo o espaço desportivo, onde hoje existe todo este espaço verde, que acho maravilhoso, e que muitas famílias podem usufruir. Esta é também uma obra emblemática, que mudou a imagem do centro da freguesia e que se faz notar em relação àquilo que a Maia foi no passado.
MH: A Cidade da Maia é fruto da agregação de outras duas freguesias. Como é que foi esta junção?
OF: A junção propriamente dita não foi difícil. O que foi difícil foi começar uma freguesia que tinha acabado de nascer com uma série de problemas financeiros que não tinham nada a ver connosco. Isso foi muito difícil, de facto. Houve um período de cerca de três meses em que, seguramente, eu e o tesoureiro, Mário Jorge, praticamente não dormíamos. Depois estavam os outros membros a tentarem perceber como é que íamos resolver as questões que nos eram colocadas diariamente. Esse foi, realmente, um período muito difícil.
Juntamente com isto, e relembro que isto é referente ao primeiro mandato, a população escolheu não dar a maioria absoluta a este Executivo e tivemos uma oposição na Assembleia de Freguesia que entendia que era não aprovando os documentos necessários à gestão diária desta Junta de Freguesia que servia melhor a população. Portanto passamos os quatro anos do mandato sem ter um orçamento aprovado, sem ter um mapa de pessoal, sem ter contas aprovadas, absolutamente nada.
Foi difícil, mas nós nunca desistimos, pensamos sempre que tínhamos de honrar o compromisso que assumimos para com a nossa população e não podíamos defraudar a confiança que as pessoas tinham depositado em nós.
No meu caso em específico, durante este meu trajeto político, tenho sempre a preocupação de não defraudar a minha família e as pessoas que confiaram em mim em 2013 para assumir este cargo. Se continuar com essa preocupação acho que, quer eu, quer a restante equipa, faremos um bom trabalho.
Eu tenho um feitio um bocadinho, como hei de dizer, com o coração perto da boca e, às vezes, podia pensar mais antes de agir ou de falar, mas eu sou assim e, honestamente, não sei se quero mudar. Acho que as pessoas já me conhecem assim, já sabem aquilo com que podem contar de mim.
MH: É o seu último mandato, pensa candidatar-se a um outro cargo político? Na freguesia ou na Câmara, por exemplo?
OF: Não lhe sei responder a isso por vários motivos. Primeiro porque não sei se quero e, depois, eu penso que não fará sentido que o próximo candidato à freguesia Cidade da Maia, pela coligação PSD/CDS, não tenha o meu total apoio.
Relativamente a outro cargo político, eu não tenho feito muitos projetos políticos. Na política há muitas pessoas que traçam o seu caminho e até passam por cima de tudo e de todos, que se servem do trabalho dos outros, que fazem do trabalho dos outros o seu. Eu não sou assim, não quero ser assim, não vou ser assim e vou dizer que para mim não vale tudo, não estou disposta a tudo.
Portanto, não sei se vou fazer mais alguma coisa na política, mas se fizer terá de ser algo com o qual me identifico, tenho de perceber e entender se posso ser útil nessa função e, depois, não basta querer, há toda uma estrutura política que tem sempre algo a dizer.
Como disse, não tenho feito grandes projetos no que à política diz respeito, mas não me tenho saído mal, até hoje. Sem contar sou vice-presidente da ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias), sou a primeira eleita pelo PSD, sou vice-presidente dos autarcas social-democratas, estou na Comissão Política de Secção há muitos anos, estou na Comissão Política Distrital também, portanto as coisas acabam por vir naturalmente. Acho que as pessoas se põem tão em bicos de pés e não vale a pena, pelo menos é essa a forma como eu olho para essas situações.
MH: E, atualmente, que projetos é que a Junta tem em mãos?
OF: Há projetos que não são da Junta de Freguesia, são da Câmara, mas aos quais a Junta faz parte e, dentro das suas muitíssimas limitações, colabora e, se mais não puder fazer, dá a sua opinião.
Há a questão das novas instalações, quer da PSP, quer da Polícia Municipal e da própria Civibox (que substitui o Centro Cívico do Sobreiro), isto são projetos municipais, a Junta de Freguesia nem sequer tem conhecimento dos projetos com antecedência.
No que diz respeito à Junta de Freguesia e àquilo que podemos fazer, que é da nossa competência, temos tido dificuldade em fazer duas coisas que gostaríamos de fazer, que já tentamos durante a pandemia e que ainda não foi possível de executar. Uma delas é a requalificação do piso do cemitério da Maia e do cemitério velho de Vermoim e, com isso requalificar também a parte de águas pluviais e a parte elétrica. A outra é no Jardim Zoológico da Maia, era importante acabá-lo. Os três anos vão passar num instante e eu confesso que começo a ficar um bocadinho stressada porque acho que as coisas não andam. Só para ter um orçamento demora-se imenso tempo e depois os empreiteiros não têm capacidade de resposta para executar as coisas, além de que os preços aumentaram muito.
Gostava de conseguir fazer estas coisas e, a par disso, a requalificação quer do Polo Administrativo da Maia, quer do Polo Administrativo de Gueifães. O Polo de Gueifães já está numa fase mais avançada, já temos o projeto, já estamos a pedir orçamentos. Estes cinco assuntos gostava realmente que ficassem feitos nestes três anos. Se não for possível concluir, as obras não são nossas, são de quem cá estiver. Quando vim para a presidência da Cidade da Maia, tínhamos uma dívida enorme e tomei conhecimento que tínhamos de dar seguimento a uma fase da obra do cemitério de Gueifães que já tinha sido adjudicada, portanto tivemos de dar seguimento, isto é só um exemplo. Só temos de ter as coisas bem feitas, devidamente preparadas, para que, quem vier a seguir, possa seguir com os nossos projetos, com os projetos que foram contratados no nosso mandato.
E não posso esquecer da requalificação da avenida das escolas, que vai ficar com modos suaves e que vai fechar o quarteirão. Vai, de facto, poder ser utilizado para outro tipo de eventos que não são feitos aqui na cidade.
Também a conclusão da Periférica, que vai ligar até à rotunda da Sonae, a nível de rede viária da freguesia, é muito importante. Já está praticamente concluída e vai escoar o trânsito pesado, que muitas vezes anda aqui na freguesia a estragar as ruas, passando a expressão. Vai, então, ser mais uma forma de nos podermos deslocar mais facilmente dentro da freguesia e vai ser algo melhor também para as freguesias que fazem fronteira connosco. Esta é uma questão que também tem preocupações com o ambiente e foi importante criar esta alternativa.
MH: Ainda a questão dos cemitérios é algo que diz muito à população. Já a questão do Zoo, é de facto importante, quer para a Cidade da Maia, quer para o Concelho?
OF: O Zoo continua a ser o equipamento turístico mais importante do concelho, não temos outro. Está-se agora a trabalhar muito na questão de outros espaços que atraem turistas, por exemplo a Quinta dos Cónegos, a Fundação Gramaxo, que está em curso. Mas há pessoas que só vêm à Maia para ir ao Zoo, que depois acabam por consumir algo na restauração, temos também muitos visitantes estrangeiros, ao contrário daquilo que se possa pensar, que acabam por ficar em algumas unidades hoteleiras nas redondezas.
Para a Junta de freguesia é um equipamento importante, mesmo a nível financeiro, desde que nós entramos. A avaliar pelas dívidas que ficaram, de 2013 para 2014, o Jardim Zoológico começou a duplicar a sua faturação. Desde essa altura que o Zoo não consome receitas a não ser aquelas provenientes das bilheteiras e, por isso, desde 2014 que o Zoo da Maia é autossuficiente.
MH: Mesmo a questão do tratamento de animais e tudo o que lhes for inerente, são custos que vêm desta autossuficiência ou a Junta dá uma ajuda?
OF: O Zoo é da Junta. São os funcionários da Junta que prestam serviços no Jardim Zoológico. O Zoo não existe enquanto entidade autónoma. Por exemplo, o nosso cantoneiro tão depressa está lá a trabalhar como a seguir está a trabalhar na rua. Quanto aos tratadores, como é um trabalho mais específico, é diferente.
Quero também aproveitar esta oportunidade, porque sei que o MaiaHoje é lido pelo concelho fora, para dizer que é assim que surge uma distinção entre os residentes na freguesia e os residentes fora da freguesia. O Zoo da Maia é da Junta da Cidade da Maia e, portanto, só os residentes da Maia, Vermoim e Gueifães é que têm o direito de entrar por dois euros. Os residentes nas outras nove freguesias do concelho entram por três euros e 75 cêntimos. Às crianças até aos 13 e aos seniores com mais de 65, do concelho inteiro, este executivo decidiu que entram gratuitamente.
MH: Falava aqui de algumas dívidas, quer explicar melhor que dívidas eram essas?
OF: Eram dívidas provenientes da gestão da Junta da Maia, dizem que era por causa do Zoo. Não vale a pena falar disso, até porque no espaço de um ano as dívidas foram pagas, fruto de muita poupança e de ter conseguido, junto dos funcionários, que eles percebessem que, de facto, nós estávamos em crise e que, se eles não nos ajudassem, íamos inclusive ter problemas de salários.
Devo dizer que há muitas coisas que acabaram e que existiam nesse tempo. Por exemplo, animais que não eram do Zoo a serem alimentados lá, rações que eram compradas pelo Zoo e que iam para casa de outras pessoas, bens como cimento e tijolos que eram adquiridos e não eram gastos na Junta e não vale a pena falar mais nesta questão. Existe uma ação a decorrer em tribunal e, como costumo dizer, o Tribunal é soberano. E se a Junta dever alguma coisa a alguém, pagará e se tiver algo a receber, quererá receber.
MH: Passando, então, a outra questão. É esta uma freguesia propícia ao acolhimento de outras empresas?
OF: Eu acho que sim. A Zona Industrial da Maia não está nesta freguesia, mas temos outras zonas mais pequenas que são industriais. A Cidade da Maia, até pelas acessibilidades que tem, tem todas as condições para ter um tecido empresarial interessante. Não tem necessariamente que ser um tecido empresarial de indústria, pode ser de serviços. Eu até acho que temos bastantes serviços, são é pouco diversificados. Faz-nos falta, por exemplo, mais comércio de rua. Mas sim, temos todas as condições para termos um tecido empresarial bom. Tive, inclusive, oportunidade de, nesta última candidatura, desafiar o presidente Tiago a arranjarmos uma política de forma a angariarmos mais comércio tradicional para as ruas da nossa freguesia. É um trabalho que se faz caminhando.
MH: Há algum aspeto que melhoraria ou faria de diferente, fazendo uma retrospetiva dos seus mandatos?
OF: Eu acho que, de modo geral, a nível de trabalho efetivo da Junta de Freguesia, estamos a trabalhar muito bem. Acho que conseguimos, de facto, estender os serviços que existiam na freguesia às outras duas e, portanto, a nossa população, hoje, é mais rica, ou pelo menos tem a possibilidade de aceder a serviços que antes não tinham nas três.
Eu acho que se tivesse algo a mudar, não seria tanto no dia a dia da Junta, seria mesmo em mim, e volto aqui à parte em que falei do meu feitio.
Estou muito orgulhosa do trabalho que temos feito e da equipa que temos na Junta. Mesmo durante o tempo de pandemia, não houve ninguém que viesse pedir à Junta o que quer que seja e fosse daqui com um não.
MH: Não há, por isso, distinção entre habitantes da Maia, de Vermoim e de Gueifães?
OF: Absolutamente nenhuma. Não existe Maia, Vermoim e Gueifães, nós somos uma freguesia, ponto. O que existe é que eu não estou sempre no edifício da Cidade da Maia, tanto vou atender à Maia, como vou atender a Gueifães, como me apanham no café. De resto é uma freguesia só, mesmo a nível de funcionários. É lógico que cada um tem o seu posto de trabalho, mas eles deslocam-se, se assim for necessário.
A única coisa diferente que se faz aqui na sede é que os serviços que são comuns a toda a freguesia, como salários, impostos ou até mesmo compras, são feitos e pagos aqui, tudo o resto é feito em cada polo administrativo, não há qualquer diferença.
MH: E em termos de projetos que estão para o Futuro…
OF: Um que era importante conseguir fazer era acabar o Jardim Zoológico, que sofreu um aumento em 2012, antes de eu entrar para a Junta, mas a verdade é que as infraestruturas não foram feitas, o piso não foi feito, tem um habitat que também não foi feito. Era importante acabar o Jardim Zoológico da Maia. Gastou-se muito dinheiro e a verdade é que o Zoo continua sem estar terminado, nestes dois mandatos preocupamo-nos em colmatar os barracos, passando a expressão, que lá haviam, as fugas de água, as águas pluviais que não tinham escoamento, as ligações de eletricidade, colocar uma nova cobertura por cima do pavilhão, porque chovia lá dentro. Portanto, para não deixar danificar mais o que já existia, temos investido dinheiro a requalificar muitas das zonas que existem. Temos dado primazia a isso em vez de fazer novas coisas.
Ainda no Zoo, uma coisa que vai ser feita neste mandato vai ser a zona dos animais noturnos, que também já é um projeto que tem alguns anos e ainda não tem sido possível.
Se conseguíssemos fazer todas estas coisas que já falei nos próximos três anos, eu diria que terminaríamos em beleza.
MH: A Cidade da Maia para a senhora presidente é…
OF: A Cidade da Maia para mim é… a minha freguesia.