Medicina anti-envelhecimento
Se colocar no Google a palavra anti-aging receberá um enorme conjunto de ofertas para compra de produtos cosméticos e suplementos hormonais ou nutricionais que pouca relação têm com o conceito de anti-aging. Por estas e outras razões a Ordem dos Médicos portuguesa não reconhece a medicina anti-envelhecimento como especialidade, subespecialidade ou competência. Dentro desta instituição, há quem não concorde com este conceito mas há também quem veja espaço para a sua criação. Existe já uma sociedade científica que pretende tornar a medicina antienvelhecimento mais regulamentada e credível, a Sociedade Portuguesa de Medicina da Longevidade e Antienvelhecimento. O conceito de medicina anti-envelhecimento deve entender-se como uma forma de medicina preventiva que tem como objetivos fundamentais o aumento da esperança e a melhoria da qualidade vida, prevenindo ou tratando precocemente as doenças e atrasando os sinais e sintomas relacionados com o envelhecimento. É pois um projeto de mais e melhor saúde a médio e longo prazo e não um programa anti-rugas ou de dopagem hormonal de efeito imediato.
No que se refere ao aumento da esperança média de vida os avanços nas últimas décadas têm sido verdadeiramente impressionantes. Vejamos, por exemplo, o número de centenários. O número de pessoas a atingir os cem anos aumentou cerca de 80% na última década em Portugal, para mais de 3.000 cidadãos centenários em 2023. O número de norte-americanos com 100 anos ou mais deverá mais do que quadruplicar nas próximas décadas, passando de uma estimativa de 101 mil em 2024 para cerca de 422 mil em 2054.
Os centenários são modelos de envelhecimento com sucesso. Alguns deles (15%) não têm doença clinicamente demonstrável, os chamados “escapers”, enquanto que 43% eram “delayers”, ou seja, indivíduos que adoeceram após os 80 anos e 42% eram “survivors”, porque adoeceram antes dos 80 anos de idade e mesmo assim atingiram os “100 anos”. Estas melhorias têm sido atribuídas a vários fatores, incluindo melhores cuidados de saúde, dieta e hábitos mais saudáveis.
Mas, e se o próprio envelhecimento for considerado uma doença tratável e os novos tratamentos resultantes permitirem que a maioria de nós atinja os 150 anos? Esta hipótese tem agora fundamento científico e experimental que justificará um dos objetivos fundamentais da medicina da longevidade. Teremos oportunidade de voltar a este assunto.
Prof. Ovídio Costa
Cardiologista
Professor da Faculdade de Medicina da U.P.