Mural com 420 m2 para a posteridade
As comemorações dos 50 anos do 25 de abril na Maia, tiveram início com as atuações das duas bandas filarmónicas do concelho, Banda Marcial de Gueifães e Banda de Música de Moreira da Maia.
Logo depois da atuação, na Praça Doutor José Vieira de Carvalho, foram hasteadas as bandeiras, assinalando o Dia da Liberdade, feriado nacional. Num gesto simbólico, o Município convidou Isabel Azevedo e Vítor Cerqueira, dois dos munícipes nascidos a 25 de abril de 1974 a transportarem as bandeiras.
«Crescemos numa época em que as coisas se foram transformando. Sou português e acredito nos valores dados pelos nossos antepassados e, ao mesmo tempo, que a história não pode ser esquecida, nem o sacrifício dos outros. Esses propósitos não podem ser esquecidos em nova democracia e tudo o que temos de fazer é preservar esse ideal antigo» disse Vítor Cerqueira, nascido em Moçambique onde esteve até aos três anos. Vinda do Ultramar, a família rumou a Vila Verde, Braga, terra do pai, onde ficou até se mudar para as Caxinas, Vila do Conde, terra natal da mãe. Quando casou, em 2003, escolheu a Maia para viver e constituir familia.
Já no Salão Nobre dos Paços do Concelho decorreu a sessão solene da Assembleia Municipal da Maia, com intervenções dos partidos com representação no órgão deliberativo. A primeira intervenção foi do Presidente da Câmara Municipal da Maia, António Silva Tiago, que destacou o fim da discriminação baseada no género, «que contribuiu decisivamente para a transformação social e política de Portugal».
Ao Maia Hoje, o autarca referiu que a Revolução «foi uma conquista muito importante para o bem das mulheres, para o bem dos jovens e dos mais velhos» e acrescentou «vamos deixar as coisas evoluir e decorrerem com normalidade, também não pode haver grandes exaltações porque senão inverte-se o modelo e acho que as coisas devem acontecer com regra e normalidade».
A deputada independente, Catarina Maia, apelou à reflexão da nossa democracia «cumpre perceber qual a qualidade da nossa democracia» e sublinhou a força do poder local «os maiatos são capazes de ação, sejamos nós uma rede de proteção às suas iniciativas. Que o poder político pelas suas ações ou omissões nunca sejam pesados jogos sobre cada um dos cidadãos».
Seguiu-se a intervenção da deputada independente, Sofia Batista, que referiu que este dia «deve ser comemorado como uma homenagem à coragem, à resiliência e à luta», mas «é imperativo reconhecer que a liberdade quando levado ao extremo pode tornar-se uma faca de dois gumes».
Paula Costa, do Pessoas- Animais- Natureza (PAN), quis relembrar aos jovens que Portugal deve a sua liberdade «a um punhado de destemidos soldados que em 25 de abril 1974 eram jovens e estavam em minoria» e acrescentou que a democracia em Portugal poderá estar ameaçada por «perda de liberdades cívicas, de um sistema judicial questionável, do respeito pela Constituição, do progresso e ainda da corrupção».
Em representação da CDU, interveio Susana Ribeiro, que reconheceu «o esforço heroico da resistência antifascista, à abnegada dedicação à luta pela democracia e liberdade de comunistas e de outros democratas, a intensa luta de massas dos trabalhadores, dos intelectuais, da juventude e do povo».
Um representante do Partido Socialista (PS) também falou da importância desta data.
Pela coligação Maia em Primeiro, José Paulo Cerqueira recordou a falta de eleições livres, justas e universais, a Guerra Colonial, «o isolamento internacional que nos foi imposto e que cortou ao país a possibilidade de se desenvolver em paralelo com os irmãos europeus e as desigualdades dos direitos das mulheres face ao dos homens».
Antes de terminar, quis enaltecer a Maia, dizendo que este concelho «consolidou-se no panorama económico, tornando-se o quinto maior exportador do país; preocupado com os jovens, com os idosos e com os mais desfavorecidos; um concelho que se modernizou sem igual e soube, como poucos, aproveitar as oportunidades que abril abriu. Mantém-se ciente que há sempre mais a fazer, há sempre algo mais por que lutar».
Para terminar as intervenções, o presidente da Assembleia Municipal da Maia, António Bragança Fernandes, acredita ser consensual, que «é preciso aprofundar e melhorar a forma como cada cidadão, individual e coletivamente é considerado, afirma e põe em prática o seu entendimento e convicções políticas, traduzindo-as no diálogo e na participação cívica na vida da comunidade a que pertence».
Em entrevista ao Maia Hoje, Bragança Fernandes conta que estava a chegar de Inglaterra quando a Revolução se sucedeu «foi uma surpresa, eu não sabia o que estava a acontecer no meu país» acompanhando a evolução dos tempos «eu lembro-me que, por exemplo, era muito difícil para as mulheres porque poucas iam trabalhar e as que iam, o ordenado era consideravelmente mais baixo do que os homens, ou noutro exemplo, eram as dificuldades para um acto simples agora, como ir a Espanha ou seja passar a fronteira».
O autarca relembra ainda os tempos em que trabalhava na construção da refinaria de Sines, quando um grupo de sindicalistas em cima de uma camioneta «faziam sequestros ás empresas, nomeadamente à minha, e ficamos lá presos»
Do programa fez, ainda, parte as atuações do Ensemble de Guitarras do Conservatório de Música da Maia e do Coral Infantil Municipal Pequenos Cantores da Maia, que encerrou estas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
Maia inaugurou Mural Comemorativo
Apesar do ato de vandalismo que aconteceu durante a madrugada, a Câmara Municipal da Maia apresentou na Avenida Eng. António Bragança Fernandes, o Mural Comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, designado, “O som da Revolução”.
De facto durante a madrugada de 24 para 25, um grupo de energúmenos, vandalizaram a obra sobrepondo à pintura palavras como “viva Salazar”, “traidores” entre outras. O vereador da cultura Mário Nuno Neves, foi um dos que arregaçou as mangas e munido de uma trincha retocou a pintura nos locais grafitados.
Os artistas, Regg Salgado e Mariana Santos, que também retificaram a obra, quiseram através desta, fazer uma homenagem aos milhares de pessoas que fizeram a revolução acontecer e que continuam até aos dias de hoje a lutar e a zelar pela liberdade.
A pintura começa com uma figura a segurar num rádio, pois foi exatamente na rádio que se ouviram as senhas que secretamente deram o sinal para o início da revolução.
As áreas seguintes do mural mostram multidões de pessoas, que se juntaram, na rua, para apoiar e celebrar a revolução durante o 25 de Abril e nos dias e semanas que se sucederam, um pouco por todo o país.
Esta pintura, com 420 metros quadrados, demorou cerca de um mês a ser posta em prática e nela é possível observar as multidões no Rossio, no Largo do Carmo e também na Avenida dos Aliados, no Porto, através de fotografias de Alfredo Cunha e Sérgio Valente.
O mural é concluído ao lado direito com a célebre foto de Eduardo Gageiro que representa soldados e civis com cravos a comemorar a vitória da insurreição militar que acabaria com a ditadura.