O antigo Matadouro da Maia
No início do séc. XX, quase todos os concelhos do país tinham matadouro, sendo que em 273 concelhos do continente, só 24 não possuíam matadouros ou casas de matança. De carácter rústico e vernacular, esses edifícios vão evoluindo lentamente, à semelhança do que acontecia pela Europa. Em 1934, o governo do Estado Novo publicou uma portaria com o objetivo de conhecer a situação do país e através do Ministério das Obras Públicas e Comunicações solicitou a elaboração de um Inquérito sobre Matadouros e Mercados das Capitais de Distritos Administrativos.
Na Maia, antes de 1910, na presidência de Luiz da Silva Campos, foi elaborado o auto de arrematação para uma casa destinada a Matadouro Municipal a instalar em Milheirós, que teve como base de licitação 473.744 réis. A licitação seria verbal, o prazo de construção da obra era de três meses e a garantia de seis meses. A sua localização perto de um curso de água era fundamental para assegurar as frequentes lavagens e a normal limpeza do matadouro. Daí a construção ter sido junto da Ribeira do Arquinho.
Num recorte de jornal dos anos 30, podemos encontrar uma pequena notícia com o título Progresso: «Foi com grande satisfação que vimos parar à porta do nosso mais importante talho, o do Sr. Augusto Rocha, uma camionete, modelo, que se destina a fazer o serviço de transporte de carnes do matadouro para os talhos do concelho. Era um melhoramento que há muito se impunha pois existia um lamentável contraste entre o higiénico serviço do matadouro e o antiquado transporte em carros de bois. Parabéns, pois, ao ilustre vereador Sr. Simões». A ligação de Augusto Simões ao mundo rural e contactos privilegiados que detinha (foi membro da Junta Nacional dos Produtos Pecuários) terão facilitado esse processo.
A título de curiosidade, no ano de 1943 o valor das chamadas telefónicas efectuadas no Matadouro do mês de junho ascendeu a 52$20, conforme factura encaminhada para a Câmara Municipal pela Companhia de Telefones. 721$50 foram pagos a Domingos Nogueira da Costa por óleo e gasolina para as camionetas do Matadouro Municipal nos meses de Julho e Agosto. António Moreira Alves recebeu 80$00 do concerto de uma faca de rachar bois do Matadouro. Já José Moreira Mendes, de Covelas, Santo Tirso, recebeu 1649$30 de 12687 molhos de chouriça fornecida ao Matadouro Municipal.
Entre 1927 e 1959, o Matadouro sofreu obras de ampliação, remodelação e apetrechamento que orçaram em 2 107 126$00, dos quais 487 089$48 de comparticipações do Estado. No ano de 1963, o Matadouro Municipal tinha 19 funcionários, entre as funções de fiel, ajudante de fiel, guarda, magarefe, chefe de matança, contra-mestre de matança e motorista. Os vencimentos podiam ser pagos ao dia para pessoal menor, para valores entre os 30$00 e 36$00. Já os contratados recebiam ao mês, entre 1100$00 e 1400$00. Os serviços estavam sob a orientação do Dr. António Batista, veterinário e director municipal responsável pela sanidade pecuária, que auferia de vencimento 2200$00 mensais.
Nos anos 70, o Matadouro sofreu um significativo acréscimo do movimento traduzido num substancial aumento de reses abatidas. Apesar de tais condicionalismos, o quadro de departamento municipal em causa mantivera-se sem alterações, procurando-se suprir o natural desajustamento traduzido na insuficiência de pessoal através do recurso a pessoal eventual e a um esforço exigido ao pessoal dos quadros. Como tal, foi criado um lugar de encarregado. Também o transporte de carne do matadouro em veículos particulares foi revisto em reunião de Câmara de 15 de julho de 1971, sob a presidência de Vieira de Carvalho e os vereadores Dr. Joaquim Alves Andrade Dias, Alcindo de Almeida, Carlos Ferreira da Silva, Guilhermino de Sousa Vieira e José Rodrigues da Silva Júnior. Esta medida surgiu depois de uma carta do utente Aurélio dos Santos Quelhas sobre o regulamento e pagamento de licenças do transporte de carne em veículos próprios, visto a Câmara Municipal não ter ainda municipalizado o serviço de matança de rezes e o transporte, distribuição e venda de carnes verdes. Assim, todos os proprietários de veículos utilizados no transporte de carnes abatidas no Matadouro Municipal passariam a estar obrigados a uma vistoria.
Em 1973, o vereador Altino Coelho chamou a atenção da Câmara para as dificuldades de abastecimento de água potável com que lutava os serviços do Matadouro, propondo no sentido de as minorar, que se procedesse urgentemente à ampliação da mina das captações de água que abasteciam aquelas instalações, encarregando-se os Serviços Técnicos da orientação e fiscalização de tais trabalhos.
Rui Teles de Menezes, historiador