O brasileiro de Folgosa
Domingos Ramos Paiva nasceu a 15 de maio de 1896 em S. Paulo, Brasil e era filho de Manuel Ramos Paiva e Brasilina Ramos Paiva. O pai faleceu ainda novo, já a mãe Brasilina faleceu em 1938. Desse casamento resultaram mais três irmãos: José, casado com Emília Vince; Paulo, nascido a 28-1-1893 e que casou com uma brasileira de Belo Horizonte, Clotilde Capolianchi de Ramos Paiva Manuel; e Manoel, que casou com Maria da Glória. Manoel destacou-se como o médico que introduziu o kefir e o iogurte no Brasil na década de 20 e que passou da alopatia à homeopatia na década de 40.
Domingos, quando voltou a Portugal para estudar, esteve no Externato dos Carvalhos, e depois em Coimbra e no Porto. Terá feito dois cursos – Matemática e Engenharia Civil. Entrou na Universidade com 18 anos, pois o seu nome consta da Lista alfabética dos alunos do ano lectivo de 1913-1914. Encontramos aí a sua filiação, naturalidade e idade nessa altura. O percurso académico passou pela Faculdade de Ciências (Antiga Academia Politécnica) pelo menos entre 1914-16, e esteve matriculado em várias disciplinas: Desenho rigoroso (onde teve 16 valores); Química; Cálculo diferencial e Integral; Química inorgânica; Análise química qualitativa; Cristalografia; Desenho topográfico; Álgebra superior; entre outras cadeiras. Também surge referenciado no Livro de registos de inscrições e exames dos alunos do Curso de Engenharia da Universidade do Porto.
Segundo o livro de Estrangeiros da C.M. Maia entre os anos de 1930-39, Domingos Ramos Paiva foi registado como solteiro (embora num registo surja como casado por engano do escriturário), a sua residência era no lugar do Serradouro e tinha a profissão de Engenheiro Civil. Em março de 1940 foi aprovado como novo sócio da Assembleia Recreativa de Barreiros, juntamente com outras figuras conhecidas da época na Maia: Carlos Frederico Chambers, Hugh Chambers, Rui Soares de Albergaria Filho, Álvaro Aurélio do Céu Oliveira entre outros.
Homem que preferia os socos aos sapatos, mas era um amante da literatura portuguesa, fã da Académica de Coimbra e uma figura que apreciava uma conversa agradável, acompanhado de boa comida e um bom vinho. Graças à fortuna acumulada no Brasil, entre as viagens Folgosa-S. Paulo, o Dr. Domingos Ramos Paiva ofereceu o principal donativo para a construção da segunda torre sineira da Igreja Paroquial de Folgosa, baptizada por “Torre de S. Paulo”.
Em março de 1958, após uma ausência de 18 anos em terras maiatas, voltou a Folgosa e foi homenageado pela sua freguesia. Recebido pelo povo no lugar de Monforte, seguiram para o lugar da Igreja. Aí, a população juntou-se para ouvirem os discursos do Padre Alves Roriz; do Dr. Daciano Quintela; as meninas Maria Donzília Paiva e Laurinda Moreira Maia; do Reverendo Guilherme de Oliveira; Dr. Sousa e Silva e por fim, do Presidente da Câmara, Coronel Carlos Moreira. Domingos Paiva agradeceu todas as palavras amigas, num discurso simples e emocionado, expressando o reconhecimento e amor a Folgosa. No final, actuaram os quatro ranchos de Folgosa: Grupo Folclórico de S. Frutuoso, de Vilar de Luz, da Quinta e Valinho e de Santa Cristina. Conforme notícia da época «à noite houve um banquete na residência paroquial (casa da família oferecida pelo homenageado) e no largo fronteiro, o povo divertiu-se à sua maneira ao som de altifalantes».
Além da rua com o seu nome que liga o centro da freguesia à Camposa, também existe uma Rua Doutor Domingos Ramos Paiva no bairro de Jardim São Pedro, na cidade de São Paulo. Domingos Ramos Paiva repousa na sua morada eterna no cemitério paroquial, destacando-se uma placa colocada em 1970 pelos seus confrades brasileiros “…cintilante encarnação da perene juventude do espírito coimbrão tão brilhante quanto insubstituível ornamento da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra no Brasil”, juntamente com a inscrição: «Igreja de Folgosa grata aos seus benfeitores».
Regina Helena de Paiva Ramos, a sobrinha jornalista de 92 anos que vive no Brasil, é a guardiã das memórias do seu tio Domingos. De espírito culto e jovem, Regina ainda em 2022 voltou a Folgosa para o casamento de um familiar: – “…cultivo minhas raízes. Faço questão de conviver com a família de lá. E, recentemente, levei duas sobrinhas netas para conhecerem a família: não gostaria que esses laços se partissem quando eu não estiver mais aqui. Minhas sobrinhas darão continuidade a isso”. Temos a certeza que isso acontecerá.