«O novo líder do partido socialista, é o rosto de um Governo que falhou em quase tudo»
Na hora de saída da Assembleia da República, o deputado Paulo Ramalho, tido como “governamentável” na pasta da Agricultura, fala-nos da sua não recandidatura, do seu trabalho e do que espera da AD.
MaiaHoje: Porque é que, depois da primeira divulgação da lista do PSD ao Porto em que figurava em 36º lugar, com a entrega da lista de deputados no Tribunal constata-se que não fará parte do Grupo Parlamentar do PSD na próxima legislatura?
Paulo Ramalho: É verdade. Pedi para sair. Estando nessa posição, e sem qualquer possibilidade de ser eleito, tendo tomado conhecimento da necessidade de se fazerem alterações na lista por motivos relacionados com o cumprimento de obrigações com o CDS-PP, nosso parceiro de coligação, e com o próprio cumprimento da Lei da Paridade, de imediato contactei o presidente da Distrital do Porto do PSD no sentido de contribuir para a resolução do problema, até porque a Maia já tinha dois candidatos em lugar potencialmente elegíveis. A coerência é um valor que prezo muito e gosto de ser consequente.
MH: Mas não ficou surpreendido por ter sido colocado em 36º lugar depois de ter sido 8º na lista do PSD do Círculo Eleitoral do Porto nas últimas Eleições Legislativas?
PR: São opções, são decisões, de que podemos ou não concordar, de quem tem o poder e o dever de as tomar, e que temos de respeitar, da mesma forma que quem as toma assume naturalmente a responsabilidade pelas mesmas. O que não significa que não continue a acreditar na importância de se dar especial relevo ao mérito, à competência e ao trabalho. Como o vosso jornal noticiou na última edição, a Sofia Matos que foi a nossa cabeça de lista nas últimas eleições foi agora colocada em 37º lugar… E muitos outros deputados, também de perfil e valor inquestionável, não foram sequer indicados pelas estruturas concelhias e distritais…É preciso não esquecer que no PSD, o processo de elaboração de listas de candidatos a deputados começa normalmente pelas indicações das Comissões Políticas de Secção às Comissões Politicas Distritais, que por sua vez, as propõem à Comissão Politica Nacional…Sendo que na maioria dos casos, a Comissão Política Nacional, reservando uma quota para as suas próprias indicações, acolhe as propostas e prioridades das Comissões Políticas Distritais.
MH: No caso específico do deputado Paulo Ramalho, que estava num primeiro mandato na Assembleia da República, numa Legislatura que foi interrompida em menos de dois anos, dos quatro inicialmente previstos, e que era coordenador do PSD na Comissão Parlamentar de Agricultura, onde se dizia que até estava a desenvolver um bom trabalho, de relevo, com reconhecimento de muitas pessoas e organizações do setor, parece estranho.
PR: Bom, sobre a qualidade do trabalho não me vou naturalmente pronunciar, primeiro porque estaria a fazer uma apreciação em causa própria, e por outro lado, o trabalho que desenvolvi é completamente público, no sentido em que pode ser consultado e avaliado por qualquer pessoa, no site do Parlamento, no canal ARTV, no canal YouTube e nas diversas redes sociais, designadamente do PSD. Agora, é verdade que esta Legislatura, por força da dissolução do Parlamento promovida pelo Senhor Presidente da República, foi inesperadamente interrompida, muito antes do final previsto, o que é matéria que não me parece ser completamente irrelevante…, e que em muitos casos, admito até, que poderia merecer uma especial ponderação, quando comparada com as situações em que o deputado completou o tempo integral da legislatura. Todavia, respondendo em concreto à questão que me coloca, devo lembrar que em 2021 fui integrado na lista do PSD como candidato a deputado pelo Círculo Eleitoral do Porto, por iniciativa da Comissão Política Nacional liderada por Rui Rio, e não por indicação da concelhia da Maia ou da Distrital do Porto.
MH: Mas desta vez, o processo foi diferente. Ao que o MH sabe, a sua indicação partiu da Concelhia da Maia.
PR: Sim. A Comissão Política Distrital do Porto solicitou à Comissão Política de Secção da Maia, como às demais do Distrito, a indicação de dois candidatos, um homem e uma mulher, e a Secção da Maia, em resposta, indicou não dois, mas até três candidatos, dois homens e uma mulher: eu próprio, deputado ainda em funções, o Bruno Bessa, presidente da Distrital da JSD/Porto e a Olga Freire, presidente da Junta de Freguesia da Cidade da Maia.
MH: O que sabemos é que Olga Freire foi colocada em 9º lugar na lista, Bruno Bessa em 17º e Paulo Ramalho, deputado em funções, em 36º… Sabe qual a razão ou o critério?
PR: Isso agora não é importante. O presidente da Comissão Política da minha concelhia, Silva Tiago, foi das pessoas que mais me incentivou a ir para o Parlamento em 2022 e até a continuar na próxima legislatura, daí que seja levado a concluir que no momento das decisões difíceis, não terei sido considerado uma verdadeira prioridade pela Comissão Política Distrital do Porto. O que também não é um problema, pois a Maia e o Distrito do Porto ficam bem representados pela Olga Freire e pelo Bruno Bessa, a quem desejo aliás, os maiores sucessos. Eu nestas matérias gosto sempre de invocar a famosa e sábia frase de Sá-Carneiro: “primeiro Portugal, depois o partido e por fim a circunstância pessoal de cada um de nós”. É assim que me concretizo na ação política. Aliás, antes de um protagonista político, circunstancialmente com mais ou menos responsabilidades na gestão da causa pública e na construção de uma ideia de bem comum, eu continuo a ser o Paulo, um simples cidadão, com os mesmos direitos e deveres de todos os outros, como sempre fui. Não é por deixar de ser deputado em representação do meu partido que deixarei de lutar por aquilo em que acredito. Continuo a ver a intervenção política com espírito de missão, de serviço e com sentido de responsabilidade.
MH: Mas não acha que a direção nacional do seu partido aproveitou o momento para dispensar a maioria dos deputados associados à anterior liderança de Rui Rio, de quem Paulo Ramalho era até um dos mais próximos?
PR: Não, não creio, até porque a ser assim, estaríamos perante uma total incoerência. Repare, um dos lemas da liderança de Luís Montenegro é precisamente “Unir Portugal”. Ora, Luís Montenegro nunca assumiria este lema, caso não tivesse o desejo sério de, antes de mais, unir o seu próprio partido. Aliás, por diversas vezes ouvimos Luís Montenegro dizer que queria unir o partido respeitando a diversidade de pensamento. Por outro lado, o PSD sempre conseguiu construir a unidade na diversidade, esta é uma característica que faz parte do seu ADN. Quem diz o contrário conhece mal o PSD e a sua história. Construir listas nunca é tarefa fácil, conciliar interesses e equilíbrios concelhios, distritais e nacionais é sempre um desafio difícil. E desta vez, mais difícil ainda face à decisão de integrar maior número de cidadãos independentes e de nos apresentarmos a eleições em coligação com o CDS-PP e PPM. Sendo que tudo isto não dispensa o PSD, obviamente, de continuar a tentar oferecer os seus melhores quadros aos portugueses, pois todos temos a consciência que a relação de confiança entre os partidos e a sociedade civil já viveu melhores dias. Quanto à minha pessoa, é verdade que fui mandatário distrital de Rui Rio nas eleições internas que então disputou com Luís Montenegro em 2020. Mas também não deixa de ser verdade que sempre mantive com o atual presidente do partido uma boa relação pessoal e institucional, assente numa postura de verdade, colaboração e lealdade. E julgo não estar enganado sobre o apreço que Luís Montenegro e o próprio presidente da direção do Grupo Parlamentar, Miranda Sarmento, tinham pelo meu trabalho no Parlamento, e que por diversas vezes me foi manifestado. Aliás, desejo, sinceramente, os maiores sucessos aos novos deputados do próximo Grupo Parlamentar do PSD, que estou certo, tudo farão para afirmar e defender o nosso programa eleitoral que será sufragado pelos portugueses no próximo dia 10 de março.
MH: A poucas semanas de cessar funções na Assembleia da República, que balanço faz desta experiência?
PR: Antes de mais, dizer que foi uma honra e um privilégio representar e servir os portugueses na Casa da Democracia. Na verdade, o Parlamento tem muito mais importância na construção do nosso presente e futuro coletivo do que a grande maioria dos cidadãos reconhece. Nele percebemos a verdadeira dimensão da democracia representativa assente no debate de ideias e no confronto e respeito pelas diferenças. Ganhamos uma visão mais globalizada do país e das suas necessidades, mas também das soluções e das respostas que nos parecem mais adequadas. Lá, no Parlamento, aprende-se muito, crescemos enquanto atores políticos. Tive a oportunidade de integrar as Comissões Parlamentares de Ambiente e Energia, dos Assuntos Europeus e da Agricultura e Pescas, onde desempenhei as funções de coordenador. Gostei imenso de tratar de assuntos relacionados com os novos desafios emergentes do Pacto Ecológico Europeu, das alterações climáticas, da transição energética, da gestão de resíduos, da economia circular, das novas tendências da política europeia e dos desafios que se colocam à própria União, das questões relacionadas com a guerra na Ucrânia, dos novos desafios da Politica Agrícola Comum, das questões relacionadas com a nossa soberania e segurança alimentar, da regulação da cadeia agroalimentar e da distribuição do rendimento ao longo da cadeia de valor, dos temas relacionados com a gestão dos nossos recursos hídricos, do trabalho notável que desenvolvem os nossos agricultores e dos desafios que enfrenta o mundo rural. Somos um país muito desigual e com especificidades e necessidades muito diversas. Em representação do Círculo Eleitoral do Porto, foi com muito gosto que acompanhei, em concertação com a Comissão Política Distrital, todo o processo relacionado com o encerramento da refinaria de Matosinhos e com a instalação de parques eólicos offshore ao longo da nossa costa. Gostei, em particular, das ações relacionadas com o Parlamento Jovem, onde também muito aprendi. Recordarei para sempre essa manhã histórica em que estávamos no hemiciclo a inquirir o Ministro da Administração Interna, a propósito do Orçamento do Estado, e ao mesmo tempo, a receber notícias pela internet sobre o evoluir dos acontecimentos que culminaram com a demissão do Primeiro-Ministro António Costa nesse mesmo dia. Na verdade, a minha passagem pelo Parlamento foi de facto uma experiência muito positiva, em que procurei dar o melhor do meu trabalho e do meu saber, e que muito agradeço aos portugueses e ao PSD. Lamento apenas o facto de não poder ver concretizadas muitas das nossas propostas, que me pareciam importantes para os portugueses, mas que a maioria socialista sistematicamente inviabilizava.
MH: Entretanto, temos aí as Eleições Legislativas do próximo dia 10 de março. Acredita mesmo que a AD vai ganhar as eleições e que Luís Montenegro vai ser Primeiro-Ministro?
PR: Acredito. Pedro Nuno Santos, o novo líder do partido socialista, é o rosto de um Governo que falhou em quase tudo, que não conseguiu afirmar um caminho de progresso para o nosso país, que apesar de estar suportado numa maioria parlamentar de 120 deputados, não foi capaz de promover as reformas que Portugal tanto necessita. Este Governo, cujo Primeiro-Ministro se demitiu e provocou a crise política que nos leva a eleições no próximo dia 10 de março, é o maior responsável por estarmos sujeitos à maior carga fiscal de sempre, mas também o maior responsável pela degradação dos serviços públicos que hoje todos sentimos. Não é por acaso que todos os dias assistimos a greves e manifestações na saúde, na educação, nas forças de segurança, na justiça, na agricultura…Este Governo do partido socialista, envolvido em frequentes casos e casinhos ao longo dos últimos dois anos, que provocaram inclusive um número anormal de substituições dentro do próprio elenco governativo, tem especiais responsabilidades pela crise de credibilidade das instituições a que vimos assistindo. Este Governo não soube sequer aproveitar os fundos do PRR para modernizar o país e tornar a nossa economia mais robusta e resiliente. Os portugueses continuam a perder poder de compra e Portugal a ser constantemente ultrapassado em termos de PIB per capita por países que há meia dúzia de anos estavam bem atrás. Não tenho duvidas que no próximo dia 10 de março os portugueses vão querer mudar de vida e escolher uma alternativa para a governação do nosso presente e futuro coletivo, que lhes devolva a esperança, que só poderá ser protagonizado pela Aliança Democrática e pela liderança de Luís Montenegro, que apresenta um projeto politico credível, inclusivo, assente no crescimento económico, na inovação, na promoção e valorização dos serviços públicos, nas parcerias com a economia social, na proteção dos mais frágeis, na resolução dos problemas da habitação, na restauração da credibilidade das instituições, na convergência com os países mais desenvolvidos da União Europeia, que não esquece o desafio da coesão territorial, da nossa soberania e segurança alimentar, o mundo rural, as alterações climáticas, mas que acima de tudo, pretende garantir um futuro melhor para todos os portugueses, não deixando ninguém para trás.