Testosterona em vias de extinção
Sou um forte adepto do progresso e desenvolvimento tecnológico, desde que, aconteça de modo gradual e a uma velocidade que a maioria consiga acompanhar. Infelizmente, desde o início do milénio, o panorama alterou-se e muita gente ficou para trás. As bugigangas nórdicas desapareceram e todos nós temos (junto aos glúteos) um espelho retrovisor feito num país asiático. Com as televisões e demais aparelhos aconteceu o mesmo e, em breve, até os automóveis serão fornecidos – à excepção da Tesla – pelos senhores de olhos rasgados. Tamanho grau de sofisticação exige que o consumidor esteja sempre actualizado – seja pela péssima qualidade da construção ou pelas constantes inovações. Somos escravos das marcas e agimos conforme os seus departamentos de marketing. Contudo, tanta agitação tecnológica interfere na nossa vida social e, permitam que o diga, temo por alguns caminhos que estamos a seguir. Em democracia impera a vontade da maioria. Porém, tal como nos ensinou António Costa, a maioria é a soma de todas partes…
Nos últimos anos, as minorias renasceram e conseguiram impor as suas vontades e crenças à sociedade em geral. Tudo é posto em causa! Movidos por ideais momentâneos e contrários aos que estão em vigor, alguns marialvas resolveram reeducar todo um povo através das redes sociais. A grande meca do conhecimento furtivo, onde um acéfalo pode ser profeta! Conseguiram erradicar os piropos, tornando desolador o silêncio numa obra em construção quando passa uma senhora mais produzida. O galanteio – outrora um elogio – foi substituído pela indiferença. Olhar de soslaio, num espaço público, é considerado assédio. O medo está patente no relacionamento entre homens e mulheres. Os jovens, que desabrocham para a vida controlados pela testosterona, preferem conviver com os amigos em vez de arriscar perante o sexo oposto. As raparigas insistem numa carreira de modelos fotográficos no Instagram. Muito em breve, esta geração descobrirá que o namoro é virtual e as imagens e vídeos, que a Internet fornece, serão a única forma de escapar a processos judiciais e satisfazer desejos, mantendo activo (em regime self-service) o órgão reprodutor que Deus lhes deu. Visão de futuro: virgens aos quarenta anos.
Opinião Miguel Correia