«Um órgão de freguesia ou é o “braço armado” da Câmara ou um órgão de proximidade»
Numa entrevista de Passado, Presente e Futuro, o presidente garante que «O Castêlo vai ter, e já está acordado com o Instituto da Habitação, 190 apartamentos para rendas acessíveis, estudantes, entre outros. Com a colocação dessa infraestrutura vai ser construída uma praça pública, que terá um parque com entre cinco a seis mil metros quadrados». Para o autarca ainda «Há coisas para corrigir? Obviamente que sim!», no entanto «Em andamento está a requalificação do mercado do Castêlo. Faz pouco sentido que uma infraestrutura daquelas trabalhe apenas cerca de três horas por semana. Queremos chegar à altura em que estará aberto todos os dias», mas as novidades não se ficam por aqui «Para o próximo ano está prevista a requalificação do edificado na Praça 5 de Outubro, concretamente o edifício onde está o restaurante “João da Requieira”. Pretende-se fazer aí um polo de serviços da Junta, um apoio ao Museu do Castêlo, por exemplo uma oficina de Santeiro, uma Universidade Sénior» e ainda um “sonho” «Na Avenina Belmiro de Azevedo, queremos criar um polo central que contemple, entre várias infraestruturas, um Pavilhão Multiusos, uma Casa das Artes… Esta obra transformaria por completo o Castêlo».
Manuel Moreira Azenha nasceu em São Pedro de Avioso e conta agora com 77 anos de idade. Trabalhou como bancário e empresário e diz que a sua vida «tem avanços e recuos e, às vezes, até sobressaltos». Durante cerca de 28 anos esteve ligado ao associativismo, tendo sido presidente do Castêlo da Maia Ginásio Clube.
Em 2013, aquando da agregação das freguesias S. Pedro de Avioso, Santa Maria de Avioso, Gemunde, Barca e Gondim, que deram origem à atual freguesia do Castêlo da Maia, Manuel Azenha foi eleito o primeiro presidente desta união.
Estando, atualmente, no terceiro mandato o presidente fala ao MaiaHoje sobre o Passado, Presente e Futuro da freguesia.
MaiaHoje (MH): Tendo nascido e vivido sempre aqui sabe e conhece bem como é que era a freguesia, e agora este conjunto de freguesias, há uns anos atras?
Manuel Azenha (MA): É obvio que sim. E tenho de fazer uma ressalva inicial, isto porque nunca fui político, nunca me tinha metido na política. Aquando da agregação acabei por, de alguma maneira, contribuir ou ajudar, tentar resolver algum problema… isto porque cada ex-freguesia tinha o seu presidente, e era natural que cada um quisesse aspirar a ser o primeiro presidente da Junta da nova Freguesia do Castêlo da Maia. De certa forma, quem superintendia na altura, acabou por elaborar uma estratégia em que eu apareci, de alguma forma, para salvaguardar este aspeto de eventual disputa.
MH: E foi o primeiro presidente do Castêlo?
MA: Absolutamente, isso é um facto que já ninguém me pode tirar. Há aqui dois aspetos que são absolutamente controversos. De facto, as freguesias, ou ex-freguesias, comparativamente com o dia de hoje, e do meu ponto de vista, evoluíram bastante, embora reconheça que ainda há muito que fazer. Por exemplo, no campo de discussão mutual, fala-se muito da descentralização. Eu considero que um órgão de freguesia, do meu ponto de vista, ou é o braço armado da Câmara Municipal, e que atua no terreno mais próximo, ou então é ele próprio um órgão de proximidade, para resolver os problemas do dia-a-dia, do quotidiano, das populações. Eu inclino-me mais para este tipo de organização.
Ainda quando comparado com o passado, digamos que o Castêlo da Maia hoje tem no concelho uma influência que nunca teve. Depois, o que acaba por acontecer, é o facto de a população chamar à atenção para a desagregação. Dá-se o desenvolvimento de movimentos dos chamados “Velhos do Restelo”, que tentam captar, pela via populista, a simpatia das pessoas. De facto, é caricato, mas há aqui freguesias que pretendem a reversão, lutam por isso e pura e simplesmente usam estes argumentos populistas sem nenhuma consistência. Sem se aperceberem acabam por ser os maiores adversários da própria população. No meu entender, a desagregação vai regredir aquilo que se estava a desenvolver e que, de alguma maneira, seria positivo para as populações.
Há coisas para corrigir? Obviamente que sim, mas digamos que as coisas acontecem de uma forma em que, por via da política, tudo aparece colocado com “efeito propaganda” que, ao fim e ao cabo, é nefasto para a população, do meu ponto de vista.
No que diz respeito à parte atual, é obvio que quando falo é daquilo com que me deparei, há uma diferencia substancial, e para melhor neste caso. Se me perguntar se foi difícil fazer esta gestão… quando me iniciei neste cargo de presidente, a agregação já estava em andamento, portanto não senti essa diferença ou essa dificuldade.
Sendo que são cinco freguesias, reconheço que de facto é preciso criar uma ou outra estrutura, acompanhar e saber de que a população se queixa. No caso das agregações há uma ideia de uma certa falta de proximidade, isso não acontece. O que acontece é que os assuntos são muitos, cada vez mais e por si só.
MH: E de certa forma mais abrangentes?
MA: Absolutamente. Há aqui ainda um caminho longo a percorrer, por muito que se faça isto, digamos que tem o seu aspeto de cuidado, de preocupação, e ainda estamos na fase de evitar tudo isto que acabei de equacionar, ainda estamos na fase de tentar conceder uma obra aqui, uma intervenção ali, uma intervenção acolá.
MH: Está já no seu terceiro mandato. Depois destas últimas Eleições Autárquicas teve um problema em conseguir instalar o Executivo, não é verdade?
MA: Por paradoxal que pareça, isso não corresponde à realidade, mas parece como tal aos olhos do público. No meu ponto de vista tem uma explicação completamente racional. De uma forma sintética, fazendo uma pequena sumula do que aconteceu é que, em Gemunde, se gerou um movimento de “revolução”. Na altura antes da campanha eleitoral, os membros desse movimento acabaram por fazer “um porta-a-porta” de recolha de assinaturas para poderem, de alguma maneira, demonstrar a vontade da população. É obvio que constituíram o movimento, e que depois concorreu às eleições. Esse movimento acabou por obter mil e poucos votos. Obviamente que esses mil poucos votos, acabaram por fazer falta noutros lados, e nós fomos os mais afetados, porque éramos os mais votados.
No primeiro mandato ganhamos por maioria relativa, chegamos a um acordo com o Partido Socialista e correu muito bem, não criamos nenhum problema nem atrito porque houve bom senso de parte a parte. Depois, no segundo mandato, ganhámos por maioria absoluta, o que prossupunha que deveria e poderia haver uma continuidade daquilo que foi conseguido concretizar, era muito mais fácil. Para este terceiro mandato veio a observar-se um problema que tem assolado as mais diversas democracias, que é a abstenção. A abstenção dificulta o aparecimento das maiorias absolutas, e obviamente isso gerou, por ventura, um espírito de deceção a quem esperaria ver eventualmente maiores resultados. Esta é a minha leitura. Com o aparecimento desse movimento, eles esperavam ganhar as eleições, o que é legítimo. Como isso não aconteceu dificultaram-nos a vida na instalação do Executivo, o que não foi muito bonito de se ver, mas já diz aquele ditado popular “cada um é responsável pelas suas atitudes e pelas ações que desempenha”. Não é bonito nem é agradável de se ver, mas é uma das coisas às quais temos que tentar conviver com elas.
MH: Ainda há pouco disse que nunca tencionou entrar para a política. Quando chega a presidente de Junta, que propósito definiu como seu, para exercer este cargo? O que o move?
MA: Se se considerar que o facto de pertencer a um órgão que tem cariz político, que é desenvolver política, então já tinha estado, no tempo do Doutor Vieira de Carvalho, 20 anos na Assembleia Municipal, mas este é um órgão que não tem caracter executivo, é um órgão de fiscalização, portanto não há uma atuação propriamente dita em termos políticos.
Neste caso aqui, pode parecer um paradoxo, mas isto resume se em duas ou três afirmações: uma da amizade que eu nutro pelo, na altura, presidente da Câmara, o engenheiro Bragança Fernandes e o seu vice-presidente, que é agora o atual presidente, engenheiro Silva Tiago, que me abordaram nesse sentido para me prestar a este serviço. Eu ainda resisti, porque efetivamente não tinha nada a ver com política, mas acabei por dizer que sim.
A segunda razão prende-se com o facto de Deus me ter dado algum conforto na minha vida. Tive alguma sorte, se é que se pode falar desta forma. Eu sentia-me, de alguma maneira, com uma certa obrigação de ajudar os outros, e esta função acabou por me convencer. Esta é uma facilidade de, de uma forma objetiva e de uma forma absolutamente diferente e disfarçada, sem estar a dar nas vistas, de ajudar a população. Não tinha nem tenho vocação para ser, por exemplo, voluntário no hospital, e aqui, na Junta, dá-me a possibilidade de o fazer de uma outra forma, e até mais ampla, atingindo populações que vivem quase que no dia a dia junto com os nossos olhos e que nós muitas das vezes, ou não vemos, ou pretendemos não ver, o que é natural.
A terceira razão é uma missão de serviço. Pode parecer que há uma certa parcialidade, não, eu estive cerca de 28 anos no voleibol do Castêlo da Maia e já tinha alguma experiência associativa e acabei por ceder a este cargo. E, digamos, até à data, nunca deixei nada na minha vida a meio ou por concretizar.
MH: Portanto, no fundo, o seu principal objetivo é ajudar as pessoas?
MA: Sim. Repare, há uma das coisas que me custa muito a verificar, a acreditar e até a afirmar, que é a verdade política. Verdade há só uma, e parece que muitas das vezes se pode dizer que tudo e mais alguma coisa é ao abrigo da função política. A verdade é que eu acho que não, o amarelo é sempre amarelo e o vermelho é sempre vermelho. Posso é gostar muito, posso não ter jeito nenhum para pintar e as tintas que me dão não serem as suficientes para carregar na cor que quero. E pronto vamos caminhando neste sentido e, se é que posso fazer esta metáfora, é essa a maneira de estar.
Repare que, aqui, entra um cunho pessoal. Eu se calhar numa forma parcial sirvo melhor as terras de onde não pertenci, prejudicando inclusivamente a que pertenci, São Pedro de Avioso. É uma maneira de ser. Feliz ou infelizmente há muito a fazer em vários os lados, ainda há oportunidade de selecionar esse aspeto.
MH: E, entrando na questão dos projetos, atualmente que projetos estão em cima da mesa?
MA: São muitos.
MH: Claro que há certamente aqueles que “jogam” com a Câmara Municipal…
MA: Quase todos. Essa é uma das formas que falta definir, ou seja, qual é a função da Junta e até onde ela pode ir, porque de facto qualquer obra estruturante, qualquer obra mais desenvolvida, só com a ajuda da Câmara é que se tem recursos para isso.
MH: E em certas coisas até as Juntas não têm, digamos, a independência para o fazer…
MA: Bateu no ponto. Muitas das vezes a maior dificuldade não é só o dinheiro, mas a maneira como lá se chega. Desde os projetos a desenvolver, à condução, colocação, um sem número de exemplos, até toda a parte burocrática, que vai até culminar com os concursos públicos.
Quanto aos projetos, não posso desligar-me do presente para com o futuro. O Castêlo da Maia, no meu ponto de vista está numa encruzilhada boa, no ponto de dar o salto. Até porque já foi sede do concelho.
Digamos que falta uma parte central que está na forja. O Castêlo da Maia vai ter a felicidade de ter, e já se chegou a um acordo com o Instituto de Habitação, 190 apartamentos para rendas acessíveis, para estudantes, entre outros. Com a colocação dessa infraestrutura vai ser construída uma praça pública, com um parque que tem entre cinco a seis mil metros quadrados. Creio que o que acabo de referir deve começar durante este mandato, e eu gostava que assim fosse, para poder dar um tiro de partida a algo tão importante. Efetivamente, digamos que era fundamental.
Juntando a estes, existem dois projetos que estão em andamento. Um é a requalificação do mercado do Castêlo. Faz pouco sentido que uma infraestrutura daquelas trabalhe apenas cerca de três horas por semana. O objetivo é uma requalificação que permita a exploração do próprio mercado até chegar ao dia em que estará aberto todos os dias. Tudo depende da população, convenhamos que não estamos numa cidade. O Castêlo tem muitos habitantes, mas para isso, para dar corpo a isto, é preciso ter um desenvolvimento natural e regular.
Outro aspeto que está em fase de projeto, e suponho que em fase de obra, que poderá e deverá acontecer no próximo ano, é a requalificação do edificado na Praça 5 de outubro, concretamente o edifício onde está instalado o restaurante “João da Requieira”, todo aquele edifício é publico, é da Câmara, e pretende-se fazer aí um polo de serviços da Junta, uma parte de apoio do museu Castêlo, por exemplo uma oficina de santeiro, uma Universidade Sénior. É algo que faz muita falta para este tipo de atividades, até porque não existe.
Há ainda outro tipo de desenvolvimento, e há aqui uma parte que é fundamental, isto porque este projeto que vou referir agora é do domínio da Câmara Municipal, que pretende, pela zona da Avenida Belmiro de Azevedo, que é a avenida que vai para a Zona Industrial, criar um polo central que contemple, entre várias infraestruturas, um pavilhão multiusos, uma Casa das Artes… há todo um conjunto de apoio, de atividades. Esta obra transformaria por completo o Castêlo.
MH: Findo este terceiro mandato, o que pensa fazer? Manter-se ligado à política, voltar, por exemplo, a ter ligações ao associativismo, o que é que projeta?
MA: Quando eu chegar ao fim deste mandato tenho 80 anos. Já terei idade para ter juízo, e nessa altura creio eu que o lugar deverá ser dado aos mais novos, porque eu sou apologista disso. Não só como questão retórica, mas de realidade.
Não há dúvida nenhuma que o mundo está numa mudança vertiginosa e há que saber acompanhar. E tenho de reconhecer, eu tive uma infância, uma educação, absolutamente conservadora, obviamente que não vai ser aos 80 anos que vou mudar radicalmente, posso fazer um acerto pontual, mas, por exemplo, nunca pensei andar de telemóvel na mão, e sem ele não se consegue fazer nada. Eu tenho de ter a capacidade para me adaptar, a verdade é uma só. Hoje em dia os miúdos nascem e, quando abrem os olhos, já sabem usar o telemóvel, e nós vemo-nos gregos, passando a expressão, para desempenhar várias funções, é a lei natural das coisas.
É obvio que há duas coisas que eu tenho alguma experiência. Com os 28 anos que tive no voleibol, a minha opinião acerca disto, é que a juventude é o mais generoso que existe, o que é preciso é saber tirar o fruto disso, capta-los, interessa-los. Já para não falar que têm outra preparação que eu e as pessoas da minha geração não temos.
MH: O Castêlo da Maia, segundo os Censos de 2021, é uma freguesia com grande número de habitantes com o Ensino Superior concluído. Acha que se deve, em parte, à Universidade da Maia?
MA: Sim, de facto tem muita influência. Até pelo aspeto do Erasmus, de protocolos estabelecidos com São Tome e Príncipe, Cabo Verde, por exemplo. Tem aqui muita gente jovem no Castêlo, uns estão na Universidade e outros no Ciccopn.
MH: Como cidadão, como gostava que fosse o Castêlo da Maia no futuro?
MA: Exatamente aquilo que eu pretendo enquanto presidente da Junta. Eu procuro olhar para o meu Castêlo da Maia, porque gosto muito dele, senão não estava aqui, com outros olhos, com olhos de futuro, bem ou mal, tenho me socorrido de pareceres de algumas ideias que convergem com a minha maneira de ser.
MH: E mesmo antes de terminar, não há distinção para o senhor presidente entre, por exemplo, São Pedro de Avioso, Santa Maria de Avioso, Gemunde, para si não há diferença nenhuma?
MA: Não, pelo contrário. Por um lado, seria hipócrita se dissesse que não gostava da terra onde eu nasci, São Pedro. Mas regra geral, e para a população não dizer que só faço obras, requalificações e entre outras coisas, na minha terra, eu opto pela terra que não é a minha.
MH: Mesmo para terminar, o Castêlo da Maia, para o senhor presidente é….
MA: Tudo.
De facto, não faria sentido se me metesse numa coisa em que não acreditasse. Nós temos sempre uma tendência para um realismo negativo, mas é obvio que no meio disto tudo existem muitas coisas boas. Há conquistas que são mais difíceis de alcançar e de lá chegar, mas quando acontecem deixam ficar uma marca e justifica o esforço, de modo que o indivíduo olhe para trás e perceba que, pelo menos, vive de uma maneira que pode ser útil. É nessa perspetiva que eu continuo a desenvolver o esforço, como até aqui o fiz.